Certo dia, na minha infância, minha mãe estava falando sobre
o meu apego e de minhas irmãs com o nosso pai, Manoel - às vezes, eu chegava a
ficar doente quando ele viajava. “Eu devia
ter colocado o nome Manuela em uma de vocês”, avaliou, sem saber o quanto aquele comentário iria me tocar. Eu concordei com ela. E, no auge dos meus
seis ou sete anos, tomei uma importante decisão. “Não se preocupe, mainha, esse
vai ser o nome da minha filha” – o que ela, provavelmente, não deve ter levado
tão a sério. Mas eu sim.
A partir de então, todas as minhas bonecas passaram a
ter o mesmo nome. Mas cada uma das Manus era diferente para mim. Tinha uma
pequenininha, que tinha cabelos loiros e usava uma meia listrada. Tinha a Manu “frutinha”,
que tinha cheiro de laranja. Tinha uma Manu de tecido, com cabelos de fios de
nylon. E tinha a Manu bebê, por quem meu coração sempre bateu mais forte. Era
uma boneca de tamanho médio, toda de plástico, dessas que tem só uma mechinha
de cabelo – que eu fazia questão de enfeitar com lacinhos e fitinhas.
Lembro de
arrumar cada uma delas para “dormir”, espalhando suas caminhas pelo chão do meu
quarto. Minhas irmãs, que dividiam o quarto comigo e nunca acharam muita graça
nesse tipo de brincadeira, sempre iam reclamar da bagunça para a minha mãe. Na maioria das vezes, no entanto, ela deixava as “netas” ficarem morando ali
durante alguns dias. Eu adorava e a retribuía com beijos e gratidão! Era uma felicidade! E é por isso que hoje eu estou assim tão
contente. Por saber que, em breve, eu voltarei à minha brincadeira preferida. E,
como não poderia deixar de ser, com uma bonequinha chamada Manuela.