terça-feira, 28 de julho de 2009

Cabeleireiro

Na escola, a professora quis saber dos alunos “o que eles queriam ser” quando crescessem. A moça não conseguiu disfarçar o seu espanto quando um dos menininhos da turma respondeu: “cabeleireiro”. Ficou preocupada. Achou que havia algo de errado com aquela criança, talvez precisasse de acompanhamento psicológico. Era melhor informar à família. Mandou chamar o pai do garoto.No dia marcado, a professora ficou ansiosa, não sabia qual seria a reação daquele pai, imaginou inúmeras possibilidades. Mas não imaginou que ele fosse achar graça. Muita graça. Disse que ela ficasse tranqüila e foi embora. A professora achou que o homem não tinha sensibilidade e não se preocupava com o filho. Decidiu tentar resolver o problema sozinha. Chamou a criança em sua sala e perguntou: “por que você quer ser cabeleireiro?” Ele disse que “queria porque queria, ora”. Mas a professora não desistiu fácil: “sabe o pai do fulaninho, seu amigo? É advogado. É uma profissão muito bonita. Você não quer ser advogado também?” O menino, já impaciente, explicou: “tia, por que eu ia querer ser advogado se o pai do fulaninho chega aqui todo os dias para buscá-lo num golzinho velho? Você já viu o carrão do meu pai? Eu quero ser cabeleireiro igual a ele”.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Eu não assino

Estou fazendo um cursinho preparatório para concursos e, embora eu tenha uma turma legal, existem algumas coisas que me incomodam bastante. Me incomodam pessoas que só falam em concursos, em provas, em "questões". Me incomoda gente que te conheceu ontem e já quer ser teu amigo de infância. Me incomoda aquela turminha que vai para a aula para paquerar e fazer amigos, para ver e ser visto, para colocar a conversa em dia. Não que não se possa fazer amigos nesse ambiente, eu mesma converso com todos da turma, sou simpática, faço brincadeiras - que esse é meu jeito mesmo. Mas a finalidade de eu estar ali é outra. Ah, também me incomodam alguns alunos que fazem perguntas e comentários apenas para mostrar que estão por dentro do assunto, sabem como é? E olha que eu até pergunto bastante em sala, mas só quando eu tenho dúvidas e não quando eu sei o assunto (e isso me parece tão óbvio).
Mas quero mesmo é falar especificamente de uma coisa que aconteceu hoje e me deixou muito chateada. A minha turma fez um abaixo assinado (será que abaixo assinado tem hífen? Bom, não sei e estou com preguiça de pesquisar...) para que troquem o nosso professor de Administração Pública por outro. Quando eu simplesmente me neguei a assinar, alguns fizeram cara feia e me perguntaram, com ironia, se eu tinha gostado da aula dele. Para falar a verdade, eu achei bem lentinha, mas fiz questão de dizer, em alto e bom som, que "adorei".
Francamente, isso é coisa que se faça?!! O cara só deu UMA aula, ninguém disse a ele que não estava gostando do método dele e já querem logo radicalizar? Ele pode não ser o melhor professor de todos, mas é esforçado, é boa gente. Melhor que um outro, de quem a turma gosta, e que me parece muito irônico e pedante (e nem por isso eu faria um abaixo assinado para tirarem ele). Não é querendo ser a boazinha não, mas será que ninguém se coloca no lugar da outra pessoa? O cara é professor, e acho que seja um professor esforçado, e de repente chega para trabalhar e fica sabendo que a turma x se nega a ter aulas com ele?? Como assim?? Por quê? Ninguém pensa em como ele vai se sentir? Alguns dizem: "isso não é problema nosso: estamos pagando e queremos ter uma boa aula para passarmos no concurso". Eu fico chocada diante de tanta frieza. Colegas, os professores não são máquinas, nós também não somos... A prova é importante? É sim, senão nenhum de nós estaria ali. Mas ninguém cogita a possibilidade de conversar com o professor? Sugerir que ele enfoque mais tais e tais assuntos? Que faça exercícios com a turma? Não! Querem logo tirá-lo de lá... Como dizem, exigem "a cabeça" do professor. E, mesmo que eu tente fazer "vista grossa", não consigo não me indignar com isso. E não assino. Não tem quem me faça assinar. Ponto.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Isso não se faz

Eu adoro a Clarice Lispector e o jeito como ela escreve (sim, escreve, no presente, porque quem ousaria dizer que ela morreu???). Me identifico muito, muito, muito! Quando leio os textos dela sinto como se os meus sentimentos fossem a inspiração de todas aquelas palavras. E eu penso: eu nem existia ainda, e essa moça já sabia tudo o que eu iria sentir... Como pode ser, meu Deus? Pareço egocentrista, pretensiosa? Tudo bem, nem me incomodo. Tenho certeza de que, quando a Clarice escreveu seus textos, o fez pensando em mim.
Sabem aquilo que o Mario Quintana falava, que um bom poema é aquele que, quando a gente lê, pensa que é ele que está lendo a gente e não o contrário...??! É assim que me sinto quando me deparo com os textos da Clarice.
Eu confesso: gostaria de poder imitá-la... Impossível. Então, tudo o que posso fazer é ler os seus textos e ter a nítida impressão de que ela é quem está, lá no século passado, me imitando. Essa moça rouba minhas idéias, meus pensamentos, sentimentos, desejos... E simplesmente joga tudo no papel! Escancara a minha vida para o mundo inteiro, sem qualquer cerimônia, sem me pedir permissão. Sinceramente, isso não se faz, moça!
(Mas que bom que você fez...)

terça-feira, 14 de julho de 2009

Enquanto o sono não vem...

Não, amigos, eu não sou escritora. É verdade que escrevo desde que me entendo por gente e até que sonho em um dia, quem sabe, publicar meus livros (acho tão chique isso). Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Sério. Imaginem que a Clarice Lispector - sim, ELA mesma - dizia que o título de escritora não lhe caía bem, simplesmente porque ela escrevia sem compromisso e, pasmem, "sem saber escrever". Amigos, se a Clarice não sabia escrever - logo ela! - eu não posso nunca querer merecer o título de escritora. Seria muita pretensão. Eu tenho consciência disso. E nem fico triste. Primeiro porque é muito difícil eu ficar triste por alguma coisa. Segundo porque a minha vontade não é ser escritora, mas tão somente escrever... Escrever sempre. Sobre qualquer assunto, sobre nada até. Não posso nunca parar de escrever, como não posso parar de respirar, de sorrir, de amar... Faz parte de mim.
Deve ser porque eu sou, como diria uma amiga minha, "uma moça ousada". Ousada porque gosto de viajar pelo mundo sem criar raízes, ousada porque não tenho medo de desafios, ousada porque faço o que quero e só o que quero (quase sempre). Visto as roupas que gosto e pinto as unhas de vermelho, de preto, de rosa choque - as do pé, inclusive. Sou "uma moça ousada" que sente necessidade de dizer o que pensa, mesmo que depois leia seus próprios textos e pense: "quanta besteira". Mas, ainda assim, orgulhe-se sinceramente deles.
Talvez, além de ousada, eu seja um pouco estranha também. É isso, acho que não sou uma criaturinha muito normal... Vejam só: quase duas da manhã, e eu aqui, escrevendo um texto sem pé nem cabeça, sem motivo, sem inspiração. Escrevendo só por escrever, esperando enquanto o meu sono perdido procura o caminho da minha casa... Ele, que era hóspede tão frequente, nunca mais apareceu por aqui. E a minha imaginação agora vai longe... Posso ver o coitado do sono pedindo informações no meio da rua, aos poucos pedestres que arriscam uma caminhada pela madrugada! Lá está ele, exausto, olhando as placas de Brasília e tentando entender aqueles "códigos", as siglas... Esqueceu como se chega aqui. Esqueceu até a "lógica" de Brasília. Ele - o meu sono - tenta desesperadamente lembrar o que mesmo significam aquelas letrinhas do meu endereço... Sinto pena dele.
Estou ficando impaciente com a demora, nem consigo mais escrever. Preocupada, chego a pensar no pior: "será que aconteceu alguma coisa com o meu soninho querido?" Vou para a janela, esperar por ele, o meu sono, como quem espera por um namorado, ou por um filho... Os olhos ansiosos e o coração apertado de saudade!! Tomara que não demore.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A aposta

Após cometer uma certa extravagância e comprar um monte de sapatos de uma vez, resolvi que ficaria quatro meses sem comprar sapatos. “Duvido”, disse meu namorado, que já conhece a minha paixão por esses acessórios... “Duvida? Quer apostar?” E aproveitei para ganhar uma vantagem: “se eu conseguir, você me dá um sapato?” Meu amor riu e concordou comigo. E eu emendei: “da Arezzo, tá?”.
Todos riram da minha aposta, minha mãe jurava que eu não conseguiria. Em passeios tentadores pelo shopping, minha amiga garantia me acobertar caso eu cometesse algum deslize... “Pode deixar que eu não conto nada”. Mas agora era uma questão de honra! Virou um desafio pessoal... E eu consegui!!! Eu juro! Nesses 120 dias, um único parzinho novo no armário: presente de uns amigos no aniversário. Meu namorado até questionou, mas eu fui logo mandando ele tirar o cavalinho da chuva: o combinado era apenas não comprar, ganhar podia.
O shopping entrou em liquidação já nos últimos dias de validade da aposta e eu já estava quase subindo pelas paredes, mas guardei o meu cartão de crédito a sete chaves, protegido de mim mesma e... Consegui!!! Ufa, até que enfim acabou. Nunca mais vou apostar uma maluquice dessas. Posso apostar que não compro brincos, cintos, até mesmo CDs... Mas sapatos foi demais! Não sei onde eu estava com a cabeça! A parte boa foi ir até a Arezzo escolher meu “prêmio” e ver o meu amor pagar para mim sorrindo e ainda me dando os parabéns. Escolhi um sapatinho todo colorido, maravilhoso!!! Saindo da loja, comentei: “esse foi o par mais difícil de toda a minha vida”. Depois, pedi, com um sorriso de menina trelosa: “vamos dar uma passadinha naquela outra loja de sapatos, que está em promoção?!!” A minha cara de felicidade refletia o sentimento de liberdade que tomava conta de mim. Vou comprar quantos pares eu bem entender! Todos que eu quiser!!! E, claro, que a minha “restrição orçamentária” permitir...