sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Tio Mano

Quando eu era criança, era o meu tio Mano que levava todos os sobrinhos para o parque nos fins de semana. Uma grande farra! Íamos todos juntos, muitas vezes em um fusquinha emprestado da minha tia. E, vejam bem, eu estou falando de DEZ CRIANÇAS! Todas loucas por ele.

Tá, eu sei, hoje em dia é fácil agradar a criançada. Basta levar a turma toda no Mac Donalds e comprar um lanche com um brinquedinho para cada um. Mas eu estou falando de um tempo em que, para ser o tio querido, era preciso esforços maiores, como, por exemplo, conseguir juntar todas as tampinhas de refrigerante necessárias para completar a coleção inteira dos copos dos trapalhões para cada um dos dez sobrinhos. E ele conseguia! Nem que para isso precisasse sair recolhendo nas casas dos vizinhos, nos bares, nas lanchonetes...

Um dia, cheguei em casa com uma tarefa diferente. Precisava levar para a escola uma lista de “frases de para-choque de caminhão”. Eu não fazia a menor ideia do que se tratava e fui perguntar à minha mãe, que também não conhecia muitas, mas me deu uma solução: ligue para tio Mano, ele vai saber. E não é que o meu tio rapidamente encontrou as melhores frases para mim? Bom, vale ressaltar aqui: o Google ainda estava muito longe de existir. 

Eu era muito pequena, mas lembro-me bem que todo mundo vivia pedindo para ele resolver problemas, que iam de consertar um chuveiro a encontrar um produto que estivesse em falta no mercado. Ele acabava encontrando. Na nossa família, a gente ouvia muito a frase: “pede a Maninho, ele dá um jeito”. Resumindo, amigos, meu tio Mano era o que chamamos, na minha terra, de “pau para toda obra” (pessoa que está sempre pronta a ajudar e que não se recusa a fazer nenhum tipo de trabalho).


Enfim, quando o meu tio morreu, eu tinha apenas oito anos e sofri muito tentando entender porque ele tinha ido embora tão cedo. Na minha inocência de criança, a única resposta que encontrei foi a seguinte: Deus devia estar com algum problema muito complicado. Desses que só o meu tio Mano poderia resolver. 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Bravo, bravo!

Já faz algum tempo que eu comecei a sentir Manuela dando piruetas na minha barriga, o que tem se tornado cada vez mais frequente. Agora, ela passa o dia inteiro se movimentando. E, talvez anunciando o que vem pela frente, a madrugada também.

Às vezes, ela se mexe tanto, que eu me acordo e demoro a dormir. Fico imaginando a carinha dessa sapeca, rolando sem cerimônias de um lado para o outro. Sem sono, nem penso em contar carneirinhos. Começo, isso sim, a contar os saltos e as cambalhotas da minha pequena acrobata. Chego a cantarolar baixinho: “Uma pirueta, duas piruetas! Bravo, bravo! Super piruetas, ultra piruetas! Bravo, bravo!”

Quando ela faz algum movimento com mais força, quase reclamando da minha posição, eu sinto uma dorzinha nas costas. E, rindo sozinha, lembro-me de outro trecho da música: “Ai, minhas costelas! Já tô vendo estrelas! Bravo, bravo!”

Ao meu lado, meu marido dorme tranquilamente, assim como a cidade toda lá fora. Ninguém faz ideia de que, dentro de mim, está acontecendo o maior e mais lindo espetáculo circense de todos os tempos. O Cirque de Soleil que se cuide!