quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Se eu não gosto do Recife?

É sempre bom ir ao Recife, reencontrar as pessoas que eu amo: minha família e os amigos de infância. É maravilhoso estar com eles e perceber que os sentimentos verdadeiros são mesmo para toda a vida (e para além dela, quem sabe). No entanto, não posso negar que também sofro sempre que volto à minha cidade, ao lugar onde nasci e cresci, onde aprendi a “ser gente” - como diria a minha mãe, onde dei os meus primeiros e importantes passos, onde construí laços de amizade importantíssimos. Minha cidade já não é a mesma. E eu fico lá, olhando, olhando, procurando pelo meu Recife... Mas ninguém sabe, ninguém viu.
O meu Recife de ruas tranqüilas pelas quais eu caminhava todos os dias, sozinha, até o meu amado Colégio das Damas. Aquele Recife em que eu morava num edifício sem guaritas, sem grades, sem vigias, sem câmeras de segurança... Brincava na calçada, com a porta de casa escancarada, acreditam?
Lembro que os pedintes chegavam perto da janela de casa (eu morava no térreo) e batiam palmas, aí a gente levava, sem medo, a comida que já ficava sempre separada para essas figuras conhecidas nossas. Algumas vezes, eu bem me lembro, a minha mãe abriu a porta de casa e os deixou entrar para tomar banho, e até cuidou de ferimentos deles. Hoje, ninguém mais abre a porta de casa para ninguém. Ninguém pára sequer para socorrer uma vítima de acidente. Afinal, “pode ser mais um golpe”. Nesse mesmo Recife, onde moradores de rua podiam entrar em nossas casas, ninguém mais tem sequer a coragem de abrir os vidros dos carros. E eu fico me perguntando "o que fizeram com a minha cidade, meu Deus?!! Quando será exatamente que ocorreu essa transformação?"
Como moro há mais de três anos fora da cidade, é comum as pessoas me perguntarem se tenho planos de voltar para a minha terra. Quase sempre, surpreendem-se com o meu “não” tão definitivo. Sempre explico que é claro que posso acabar voltando, afinal, “ninguém sabe o dia de amanhã”. Mas digo com firmeza que esse não é o meu objetivo. As pessoas de lá ficam ressentidas, fecham a cara, questionam se eu não gosto do Recife...
Pelo contrário: sou louca por minha cidade. Faço questão de não perder meu sotaque e adoro quando percebo que as minhas referências aqui em Brasília são “Renata, a pernambucana” e “Renatinha do Recife”. Fazendo jus à fama de bairrista dos pernambucanos, vivo contando por aqui todas as coisas maravilhosas que temos em nossa cidade, em nosso estado.
A verdade, por mais estranha que pareça, é que eu amo tanto a minha terra que tive que sair correndo de lá antes que não pudesse mais amá-la... Tive que fugir antes que as boas lembranças da infância fossem substituídas pelo estresse do trânsito maluco, pelo pânico de andar nas ruas, pelo medo da pessoa que está no carro ao lado, ou na moto, ou na esquina, ou no sinal. Fui embora do Recife para continuar amando-o. Vivo longe da minha terra para querer estar perto. O Recife da minha lembrança é muito melhor, mais bonito e mais apaixonante do que esse Recife que está lá agora, entre buzinas, automóveis, fumaça, barulho, confusões, assaltos, assassinatos... E as pessoas, que já se acostumaram ao caos, comentam sobre o último assassinato com a indignação de quem fala sobre o absurdo do preço da gasolina...
É triste ver meu Recife assim. Minha cidade é infinitamente mais bonita na lembrança de quem, como eu, cresceu entre o Parque da Jaqueira, o Parque Santana, o Treze de Maio... Quem freqüentava o zoológico ali em Dois Irmãos, quem esperava pela Festa da Vitória Régia ansiosamente... Meu Recife tem o sabor do milho da esquina da Rua Neto de Mendonça, dos churros que eu comia na saída do colégio, do caldinho de feijão do botequinho lá de Água Fria, da batata-frita que o moço vendia pertinho do Clube Português...
Na minha memória, amigos, o Recife é a melhor cidade, a mais bonita, a mais saborosa, a mais encantada... Mas precisei sair de lá para continuar amando a minha cidade e “enchendo a boca” para dizer, como na canção, que eu “sou do Recife, com orgulho e com saudade”.
Se eu não gosto do Recife? Não existe ninguém que ame mais aquela cidade e foi justamente por isso que vim embora na primeira oportunidade que tive. Para não ter que ver o meu amor pelo Recife acabar...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Volta por cima

Todo mundo já ouviu a expressão “dar a volta por cima”. Pois bem, depois de algumas quedas, eu dei a volta por cima. Acho que cumpri todo um ciclo que inicia com a decepção, passa pela revolta e transforma-se em dor – uma dor infinitamente maior do que eu posso escrever aqui. Em seguida, isso vira indiferença e, finalmente, acontece a grande transformação: tudo foi apenas mais um aprendizado! Somente depois desse ritual é que se pode seguir adiante.
Meus primeiros passos na nova caminhada foram realmente “por cima”. E como é maravilhoso ver as pessoas que valem à pena na sua vida comemorando a sua vitória pelo único e desinteressado fato de que gostam de você! E também, é claro – não serei hipócrita, é bom para a auto-estima, massageia o ego e a alma vencer após algumas derrotas (talvez necessárias, mas ainda não estou certa sobre isso).
Alguns amigos, aqueles que fazem o tipo “protetores”, além da felicidade por me ver feliz e vitoriosa, ainda insistiram em repetir que tudo isso foi excelente para “certas pessoas aprenderem”. Também ouvi muito a expressão: “tapa com luva de pelica”. Eu confesso que fiquei pensando se meu sucesso poderia, de fato, incomodar outras pessoas... E, neste instante, lendo um texto da Martha Medeiros, acabei encontrando a resposta: “apenas sentem-se agredidos aqueles que te invejam”. Inveja, que sentimento destrutivo! Ainda bem que só faz mal aos que sentem e não aos que provocam...
Apenas como informação: eu e todas as pessoas que valem à pena na minha vida estamos muito felizes. Festejando!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

SEM LIMÃO, POR FAVOR!

Eu só queria poder pedir uma “coca-cola zero” e só... Mas não, se você pedir assim, mesmo que não saiba: estará pedindo uma coca-cola zero com limão. Juro: se eu pego a primeira criatura que inventou de colocar aquela rodela de limão na coca pela primeira vez e disse que era “legal”, eu não respondo por mim!!!

Atualmente, quando chego no bar e o garçom se aproxima, fico nervosa. Penso: “tenho que lembrar de pedir SEM LIMÃO”!!! Fico tão desesperada que quase falo só o “moço, por favor, sem limão” e esqueço até de dizer que quero uma coca. Mas não, não pensem que isso é suficiente... É fato: 99% dos garçons brasileiros sofrem de amnésia. Então, eles esquecem que você não pediu só uma coca-cola zero, e sim uma coca-cola zero SEM LIMÃO. Trazem o pedido incompleto. Ou seja, a coisinha esverdeada está sempre lá, “colorindo” o fundo do copo, azedando a nossa coca e torrando a nossa paciência!

Então, restam-me duas alternativas: fazer uma cara de “essa é a primeira vez que isso acontece, foi só um acaso” e dizer ao distinto senhor que eu gostaria que meu copo fosse trocado por outro, SEM LIMÃO, POR FAVOR; ou então esquecer a boa educação e retirar a assombrosa rodela com minhas próprias mãos (ou com seu garfo), enquanto encaro o garçom com uma olhar fulminante... Só não posso deixar que esse terrível acontecimento azede a minha noite!!!

“Moço, não esquece que é sem limão”, insisto em dizer quando ele termina de anotar o pedido. Ou então eu dou um sorriso, demonstro simpatia e tento fazer um charminho, ameaçando: “não vai esquecer, hein?” É inútil.

Ah, tem mais uma coisa: sabe aquele 1% (dos garçons) que se lembra de tirar o limão? Pois é, ele tira também o gelo... Mas, vem cá!! Só porque eu não quero azedar a minha bebida, eu vou ter que tomar coca quente? Ninguém merece!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Um grude só!

Não consigo encontrar uma blusa que eu adoro. Já revirei o armário e nada... O que isso tem de importante? Aparentemente, nada. Mas é que o fato me fez lembrar da adolescência, quando certamente ligaria para a minha amiga Sotero e diria “não consigo encontrar aquela blusa, será que não ficou na tua casa?” A gente sempre foi assim: vivia trocando nossas roupas e deixando tudo uma na casa da outra. Era quase como se nossas casas, nossos quartos e nossos guarda-roupas fossem um pouquinho das duas.
Um grude só! Lembro uma vez que um colega alfinetou: “vocês não enjoam uma da outra?” A gente riu: é claro que não. E, se por algum motivo tivéssemos que ficar uns dias sem nos encontrar, recorríamos ao telefone. Quantas longas conversas! O resultado era uma conta de telefone altíssima. Mas o problema era dos nossos pais, a gente não se incomodava muito.
Bateu uma saudade enorme desse tempo de “grude”. Era só o cotidiano de duas adolescentes que estudavam juntas, “aprontavam” juntas, se divertiam muito juntas, choravam horrores juntas e, muitas vezes, não faziam absolutamente nada... Juntas! Morro de saudade da nossa convivência, das nossas brincadeiras, das cartas enfeitadas, das conversas intermináveis, dos segredos compartilhados, das descobertas. Às vezes, a gente nem precisava falar. Uma compreendia a outra pelo olhar.
O tempo passou e, felizmente, a nossa amizade só continuou crescendo. Mas é claro que a vida de “gente grande” não permite mais as longas conversas ao telefone, as tardes de pernas para o ar, os passeios intermináveis no shopping – situação agravada pelo fato de não morarmos mais na mesma cidade...
Saudade e certeza. Duas palavras que resumem a nossa relação atualmente. Saudade uma da outra, e do tempo que não volta... Certeza de que nossa ligação é mais forte do que tudo e que, mesmo que a gente não se fale com tanta freqüência e que a gente quase não se encontre mais, estamos e estaremos eternamente juntas.
Acho que, talvez pelo momento conturbado pelo qual estou passando, tenho lembrado ainda mais dessa minha amiga tão querida – e também de outras amigas de infância, claro. Uma vez, no meu tempo de colégio, meu pai me escreveu, em uma carta: “nessa fase da sua vida, você encontrará os amigos que levará para sempre”. Ele sabe das coisas...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Renovação

Estou vivendo uma fase importante da minha vida. Uma fase de autoconhecimento e de mudanças. Quero saber o que penso, o que sinto de verdade, descobrir os meus valores. Não apenas para preservá-los, mas para modificá-los quando for o caso... Não quero viver aprisionada em minhas próprias verdades, como se elas fossem as únicas possíveis.
Sempre achei que ser coerente fosse uma grande virtude, mas começo a pensar se as pessoas ditas "corentes" não são aquelas que simplesmente se fecham para o novo, para a descoberta. Pensam e agem de determinada maneira a vida inteira, sem experimentar novos sabores, novos sentimentos.
Não quero que mudanças sejam, para mim, sinônimo de pânico. É claro que não quero modificar a minha essência, mas sinto que é preciso avaliar características que talvez estejam em mim simplesmente pela minha preguiça de examiná-las, de removê-las.
Quero conhecer minhas idéias, meus valores, minha personalidade. Separar cada coisinha que penso e colocar ao sol. Dar uma arejada... Depois, questionar a mim mesma a validade de cada uma delas e guardar somente o que ainda fizer sentido para mim.
Não viverei me repetindo por medo da mudança. Acho que, às vezes, a incoerência é necessária e faz todo sentido.
(só agora percebi que esse texto tem tudo a ver com o ano-novo, que está tão perto...)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Santa Catarina

Conta a lenda que Santa Catarina de Alexandria era dotada de uma inteligência abençoada por Deus, além de ser ousada e corajosa. Então, acho que é hora de pedirmos à Santa, a inteligência, a ousadia e a coragem para enfrentarmos, da melhor forma possível, a tragédia que está acontecendo em parte do estado Santa Catarina.
Santa Catarina é um dos estados mais ricos do Brasil, além de ser considerado por muitos o mais bonito. Eu não conheço, mas tenho um grande amigo de lá, o que me fez ter um carinho especial por todos os "barriga-verdes". No entanto, eu, como nordestina que sou, não posso deixar de destacar um lado importante na tragédia que está acontecendo nesse estado. Não apenas nessa, é verdade, mas em todas as grandes tragédias: o poder único de acabar com todas as diferenças e nos fazer enxergar que somos todos iguais. Santa Catarina de Alexandria, responda, por favor, com toda a sua sabedoria: essa é ou não é a lição que a natureza quer nos passar? A dor que agora sofrem os catarinenses é diferente da dor que sentem sempre os que vivem nas regiões mais secas e miseráveis desse país??? Ou, mais ainda: desse mundo?!!

sábado, 29 de novembro de 2008

O grande dia

Amanhã será o grande dia: vou com minha prima ao show de Rebeldes. Como ela contou à uma amiga: "estamos ansiosíssimas"! Ela, claro, porque é fã do grupo. E eu, porque, apesar de nunca ter visto a cara de nenhum dos Rebeldes na minha vida, adoro a minha prima e quero ver a felicidade dela. Fico imaginando que isso representa para ela o que significou para mim ver quatro vezes o show de Chico Buarque, em três cidades diferentes... A felicidade foi tanta que o meu coração disparou e, juro: saiu por minha boca por alguns centésimos de segundo! Acho que até o meu coraçãozinho quis ver Chico com seus próprios olhos.
Não, eu não conheço as músicas dos Rebeldes... Nenhuma. Além disso, quem me conhece está cansado de saber: eu não gosto de tumulto, de fila, de fanatismo e de gente gritando desesperadamente. Tenho horror a tudo isso! Mas eu entendo perfeitamente o que minha prima sente. Sei que o que para muitos parece uma bobagem pode ter um valor incalculável para a nossa alma.
Tenho certeza de que amanhã será um dia muito especial. Essa será uma experiência indescritível... E não estou inventando!!! É que eu sei que, ao ver os olhos da minha prima brilhando, eu vou relembrar a emoção de ver o "meu" Chico no palco, cantando, maravilhosamente: "voltei a cantar porque senti saudade..." E, nessa hora, meu coração vai, novamente, dar uma escapadinha do meu peito...

Madre Teresa

Na adolescência, ganhei da minha amiga Mari o apelido de Madre Teresa. Ela ficava revoltada com a minha incapacidade de enxergar maldade nas pessoas. Podiam aprontar tudo, qualquer coisa, comigo e eu continuava com a história de que "ah, mas ela não fez por mal" ou "eu sei que não foi culpa dele". Lembro dos gritos que levei da minha irmã mais velha, que também não aceitava a minha mania de achar que todo mundo era meu "melhor amigo"...
A verdade é que eu sempre gostei muito e profundamente das pessoas. E sempre foi difícil imaginar que o contrário, em alguns casos, podia não ser verdade. Nunca achei que eu pudesse despertar sentimentos ruins em outras pessoas.
Mas a vida ensina. Agora, eu estou percebendo que, como todas as outras pessoas, sou sim capaz de não "encantar" todo mundo. Descobri que existem pessoas que simplesmente não gostam de mim! E, como nos tempos do colégio - quando Mariana, revoltada, me chamava de Madre Teresa - eu ainda continuo considerando essa uma realidade dolorosa e difícil de aceitar...

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"Quem é amigo de todos, não é amigo de ninguém!"

Muito já escrevi sobre amizade. O fato de o tema ser tão recorrente em meus textos está, certamente, relacionado ao valor que eu dou aos meus amigos. Infelizmente, nem todos são assim. Há pessoas que não sabem a preciosidade, o dom divino que é um amigo. Acabo de me decepcionar com uma pessoa que considerava uma grande amiga. Mas não se trata de uma decepção pequena, uma briguinha ou intriguinha à toa. Fui traída. E, se podemos criar uma escala para medir traições, tenho certeza que o que essa pessoa fez comigo antigiu o grau mais alto na classificação. A traição de um amigo é pior do que a amorosa (já vivi as duas experiências). Isso porque, nos relacionamentos amorosos, existem, naturalmente, diversos sentimentos controversos, de posse, ciúme, incompatibilidade de planos e idéias, insegurança, atração... Sentimentos que não justificam jamais uma traição, mas que não podem ser desconsiderados ao julgarmos as atitudes alheias.
Mas a traição de um "amigo" dói na alma. Porque, por mais que você reflita, você nunca vai encontrar um motivo. Na amizade, não existem cobranças. Ninguém exige exclusividade a um amigo. O fato é que você pode ser fiel a todos os seus amigos ao mesmo tempo! Se você trai, é porque nunca foi amigo. É porque você não tem um bom coração, simples assim. Acho que quem trai um amigo assina um atestado de inveja e de falta de caráter.
No entanto, como eu sou uma verdadeira Poliana, estou tentando valorizar o que importa nesse meu "momentinho" de dor... O carinho e a verdadeira amizade dos que "tomam partido"!!! Afirmo com toda certeza: essas são as pessoas que valem!!! Afinal, já dizia Aristóteles: "Quem é amigo de todos, não é amigo de ninguém!".

domingo, 16 de novembro de 2008

Será que ele está ao lado de Deus?

Um tiro. Essa foi a forma que Joãozinho encontrou para calar a angústia que o atordoava. Não sei o motivo, nem o conhecia bem, mas tenho certeza que o seu objetivo, assim como o da maioria de pessoas que cometem suicídio, foi pôr fim a sua dor e não realmente acabar com a vida. Morrer, nesse caso, é uma conseqüência que parece inevitável. Acho que a angústia é o sentimento que mais dói dentro da gente. E, em casos extremos, como o de Joãozinho, faz com que fiquemos impossibilitados de enxergar as opções que existem para enfrentar os problemas. Procurar ajuda parece tolice, afinal, o problema cresceu tanto que não deve haver solução. Morrer é a única forma de não sofrer mais...
Uma amiga de Joãozinho, que também é minha amiga, perguntou se eu acredito que ele está ao lado de Deus, pois a igreja entende o suicídio como um pecado terrível. Sinceramente, eu, que já fui tão católica, chego a me indignar com essa posição da igreja. O meu Deus, o Deus em que eu acredito, é só amor e perdão! Como pode esse Deus castigar alguém? Como pode Deus negar amor e abrigo a quem, desesperado, pôs fim à própria vida? Meu Deus não hesita em oferecer consolo a esse filho.
Quer saber, sinceramente, se eu acho que o seu querido amigo está ao lado de Deus? Pois é, devo dizer: certamente ele não está... Nesse momento, minha amiga, Joãozinho está exatamente no colo do Senhor, recebendo um afago, um alento.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

À chefe, com carinho

Eu sou o que se pode chamar de “a queridinha” da minha chefe. Mas, na verdade, ela é que é muito querida. Eu gosto tanto dela que chego a acreditar que, em outra vida, ela foi minha mãe. Agora, ela está indo embora, vai enfrentar novos desafios e proporcionar a outras pessoas o privilégio de sua convivência. Além de estar sentindo uma enorme saudade antecipada, fico me questionando se eu consegui, nesses três anos e pouco de convivência, ajudá-la, de alguma forma, pelo menos um pouquinho.
Entre tudo o que ela fez por mim, eu posso dizer que o mais importante foi ter me presenteado, desde o primeiro dia, com a sua confiança. Ganhei esse presente de forma gratuita e me esforcei a cada dia para merecê-lo, mas não sei se consegui.
Enfim, ela pode ir para qualquer lugar desse mundo, mas vai continuar sendo a minha chefinha querida. Tenho uma dívida enorme com ela. E terei sempre, pois aprendi com a minha mãe "que gratidão é uma dívida que não prescreve jamais".

domingo, 26 de outubro de 2008

“Tinha certeza que você viria”

Faz tempo que não escrevo. Andam até dizendo que o nome do meu blog está desatualizado, deveria ser “parei de escrever”. Ando mesmo ausente, mas eu queria escrever algo sobre Eloá. Antes que a mídia e eu nos esqueçamos dela. Porque o Brasil tem memória curta, e eu também tenho. Na verdade, quero falar mesmo é da Naiara. Eu, como a maioria dos brasileiros, achei um absurdo a polícia ter mandado a menina de volta ao cativeiro, por mais que digam que “era para ela ter ficado na escada”. Negociar com seqüestrador é coisa para profissional e não para uma menina de 15 anos! Mas eu quero que fique bem claro: a atitude da polícia foi desprezível, mas a da Naiara foi louvável. Quero bater palmas para ela. Quanta coragem. E que prova de amizade e amor! A atitude dela me fez lembrar esse texto que eu acho simplesmente maravilhoso, mas cuja autoria desconheço:

"Meu amigo não regressou do Campo de Batalha, senhor. Solicito permisão para ir buscá-lo" disse um soldado para seu general. "Permissão negada", disse o oficial, "não quero que arrisque sua vida por um homem que provavelmente está morto". O soldado, não fazendo caso a proibição, saiu e uma hora mais tarde regressou mortalmente ferido, transportando o cadáver de seu amigo. O general estava furioso : "Eu bem te disse que ele estava morto! Diga-me: valeu a pena você ter ido lá para trazer um cadáver?" E o soldado, bastante ferido, respondeu: "Claro que sim, senhor! Quando o encontrei, ele ainda estava vivo e pode dizer-me: Tinha certeza que você viria!

No meio de tanta angústia, Eloá teve ao menos a certeza de que a amiga estava ali. Obrigada, Naiara!

domingo, 14 de setembro de 2008

Eu, grampeada

Meu namorado trabalha no STF, o que me faz cogitar a idéia de que, nesse escândalo de grampos, também o meu celular esteja grampeado. Claro que as chances de ser verdade são inexistentes, mas isso não me impediu de imaginar todos aqueles engravatados escutando as minhas conversas telefônicas com a minha mãe, o meu pai, as minhas amigas, ... Acho que devem me considerar a criatura mais insegura do mundo, só porque eu tenho o hábito de perguntar a ao meu namorado todos os dias se ele ainda gosta de mim... Ou então, pensam que esse seria uma espécie de código secreto! Isso mesmo! Acabam de descobrir uma cidadã muito suspeita... Seria essa pergunta uma senha?! Lembro das reportagens no Jornal Nacional em que sempre que há uma conversa telefônica e o grampeado fala algo do tipo “você já recebeu a bolsa?”, aparece a legenda “bolsa = carregamento de droga”. Então, os fofoqueiros de plantão, encarregados de ouvir as conversas alheias, ficam tentando descobrir o que significaria, naquele código, a palavra gostar... Há outras expressões também muito usadas por essa mesma pessoa e que eles até agora não conseguiram decifrar, como amor e saudade. E não pára por aí! Eu realmente devo estar na lista das grampeadas mais suspeitas de todas. É que há outro fato muito suspeito: toda vez que eu falo com esse determinado número – sim, aquele mesmo com quem eu vivo me comunicando "por código", eu mudo a voz, fico falando de forma meio infantilizada... Está na cara que isso é uma tentativa de disfarce! Eles não devem ter mais dúvida alguma... Socorro! Eu juro que sou inocente!! O que? Depor na CPI dos grampos?!!!!!! Socoooorrooo!!!!!!!!!!
É, acho que eu preciso ter mais cuidado com o que falo... E com o que eu imagino também!!!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Ela está certa. A gramática é que está errada.

Outra de Clara. Ela estava contando que sabia os nomes de todos da família: "o meu é Clara Maia, o de Carol é Carol Maia, o de Tati é Tati Maia, o de Luciana é Luciana Maia..." Aí alguém perguntou: e o de Raul, Clarinha, você sabe? Ela, com uma segurança de quem sabe tudo sobre concordância, respondeu: é Raul Maio.

Como pode um peixe vivo viver fora de água fria?

A minha irmãzinha Maria Clara veio toda animada me contar que ganhou um peixinho. Procurei e, como não vi nenhum aquário na sala, perguntei: e onde ele está? Resposta: na água!

sábado, 2 de agosto de 2008

Meninos, eu vi! E era linda...

A Torre Eiffel existe! Eu juro, eu mesma vi com esses dois olhos que a terra (não) há de comer. Não só vi, como subi degrau por degrau até o topo e pude constatar, lá do alto que, mais do que isso: Paris toda é de verdade! É de verdade e é linda!!! E que não é nem um pouco de exagero chamá-la de Cidade Luz e considerá-la a cidade mais romântica do mundo. Eu, que sou apaixonada pelo Rio de Janeiro, devo esclarecer que são belezas incomparáveis. Mas em Paris, felizmente, ainda se pode caminhar pelas ruas tranquilamente. Ah, e outra coisa: os parisienses são simpáticos, sorridentes, atenciosos e não ficam com raiva se você fala inglês. Tudo não passa de uma grande lenda, talvez criada por alguém que tentou afastar os turistas de lá, ficando com aquele deslumbramento todo só para si... Como se os nossos olhos fossem “gastar” a beleza da cidade.
Quando você está chegando na cidade, lembra-se de tudo o que já lhe contaram sobre ela e teme que, por ser tão alta a sua expectativa, você acabe se decepcionando. Que nada! Paris é mesmo surpreendente, não importa o quanto você já a tenha idealizado. Paris é um cantinho mágico, nesse mundo de tanta desgraça e destruição. Só quem já foi lá é que sabe. No entanto, aqui entre nós, acho que Paris só é Paris de verdade se você está apaixonado. Quero dizer, todo o encanto desta cidade é certamente muito melhor desfrutado e apreciado quando se está bem acompanhado. Que sorte a minha!

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Tio Beco

Algumas pessoas, quando morrem, nos deixam o conforto de que, em vida, foram felizes. Mas com a morte do meu tio Beco, o que ficou em mim foi a esperança de que ele agora possa ser feliz e ter paz, onde quer que esteja. Torço para que tenha reencontrado meu avô, meu tio Mano - seu irmão, e, especialmente, a minha avó - que morreu em seus braços vinte anos atrás. Espero que agora ele tenha o colo que tanto precisou em vida e poucas vezes encontrou.
Para algumas pessoas, ele podia até ser apenas um "bêbado" na rua da Harmonia, mas não para suas filhas, e nem para mim, que tenho em minha memória alguns flashes da minha infância, quando meu tio adorava brincar com a sua sobrinha que, por ser tão loirinha, ganhou dele o apelido de Milhinho. Depois que meu tio virou alcoolatra, ninguém nunca mais me chamou assim e o meu cabelo, como num protesto, escureceu para sempre...
Foi embora, o meu tio. Dia 28 de julho seria o seu aniversário. Alguém vai lembrar disso? Tio Beco, você que jamais esquecia os telefones e os aniversários de ninguém, partiu e esqueceu de nos avisar qual é o telefone do céu...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Para mim desabafar...

Não tem coisa que incomode mais os meus ouvidos do que o mim, pronome oblíquo que é, querendo se passar por um pronome reto, digno, incorruptível. Oblíquo quer dizer torto, inclinado, ou seja, algo que está muito longe de ser reto! Mas o tal do mim vive enganado as pessoas. Só quer ser o reto. É um tal de “para mim fazer isso”, “para mim dizer aquilo”... Como se o mim, coitado, pudesse fazer alguma coisa... Conheço um monte de gente que não descobriu ainda a verdadeira e oblíqua identidade desse camarada e que pensam, ingenuamente, que ele é reto, honesto, verdadeiro. Morro de vontade de alertá-las, para que passem a colocar o mim no seu devido lugar. Ficaria muito feliz se todos descobrissem a verdade, “para mim nunca mais ter que escutar essas coisas”.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Deixa que eu copio!

Uma amiga minha adora proteger os maridos e namorados das amigas. Se ela estivesse lendo esse texto, por exemplo, certamente soltaria um "é claro, eles merecem". Mesmo que os ditos cujos estejam redondamente errados, ela dá um jeitinho de defender e ajudar.
Outro dia, ela estava no cursinho assistindo a última aula de uma professora que, segundo contaram, estava paquerando um amigo nosso. Lá pelas tantas, a professora resolveu anotar o contato no quadro para os alunos que desejassem "tirar dúvidas". A esposa desse amigo, que também estava na sala e, é claro, nada satisfeita com a situação, olhou para o marido, apenas para conferir se ele estava copiando e flagrou a nossa amiga-protetora-dos-namorados-e-maridos dizendo assim: "deixa que eu copio e depois te passo, senão a Fulana vai implicar com você". Já pensaram nisso?!
Onde será que anda a cumplicidade feminina?!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Companheiros e companheiras...

Quase toda semana tem manifestação sindical na Esplanada, bem em frente ao meu trabalho. Aparece de tudo: trabalhadores rurais, sem-terra, sem-teto, sem-ter-o-que-fazer... Eu não tenho nada contra o que uma amiga minha chamou de “turismo engajado” desse pessoal, afinal quem é que iria perder uma boquinha dessas de passear na capital federal com tudo pago (só não sei de onde vem o dinheiro, e nem quero saber)? O problema é que, para justificar o passeio, eles têm que reclamar. Botar a boca no trombone, literalmente. Alugam um carro de som (outra vez: não sei com que dinheiro) e, quando não colocam a mesma música brega tocando o dia todo, eles pegam o microfone e começam a gritar. E passamos o dia INTEIRO com esse maravilhoso fundo musical... Você escreve texto, responde e-mail, organiza projetos, participa de reuniões, tudo ouvindo as maravilhosas frases que, invariavelmente começam assim: “companheiros e companheiras...” Lá pelas tantas, bate uma dor de cabeça enorme, e os companheiros não desanimam, afinal, “a luta continua”. Mas o pior mesmo são as pérolas que nós, trabalhadores, que estamos ganhando o nosso “pão de cada dia” sem incomodar ninguém, somos obrigados a ouvir. Ontem um dos companheiros se empolgou: “a gente pode ser preso se falar que é contra gays, ou seja, companheiros, vivemos numa ditadura homessexual”. Longe de mim, muito longe, defender uma volta à ditadura, mas, cá entre nós, tem horas em que a democracia chega a ser ridícula.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Nota da blogueira

Estou feliz porque coloquei um contador de visitas no blog. Assim, na ausência de comentários, poderei saber se ainda me resta algum leitor. Vai ser bom, mas para mim nada substitui um comentário.

É, Dudinha, não precisava mesmo. Você tem razão.

Todo mundo tem uma opinião para dar sobre o caso Isabella Nardoni. Minha priminha Duda, que nem completou quatro anos ainda, também tem. Ontem ela estava brincando com a minha mãe e, de repente, perguntou: “sabia que o pai jogou a menininha fora?” E, sem deixar a minha mãe responder, Duda continuou: “É, mas não precisava. Ele podia só ter dito minha filha, vá para o seu quarto e fique lá pensando...

sábado, 10 de maio de 2008

Se eu soubesse!

Mais uma de empregada. Dessa vez sobre a Silvia, uma senhora que trabalhava na casa de uma amiga - mas que pediu demissão quando a família se mudou para o trigésimo andar, pois tinha medo de altura. Eis que ela adorava fazer uma “fezinha” no jogo do bicho. No dia seguinte, ela corria para ver o resultado do sorteio no jornal do patrão. Como nunca ganhava, ela ficava repetindo, inconformada: “Deu coelho (exemplo). Poxa, se eu soubesse! Se eu soubesse!”

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Eficiente

Um dia a empregada do meu tio avô chegou para trabalhar furiosa. Ao perceber o mau-humor da moça, o patrão quis saber a razão de tanta raiva. Logo, ela explicou: sabe o que é, seu André?! É que eu não agüento mais essas filas de banco, de ônibus, de supermercado. E, para piorar, sempre chega um eficiente e passa na minha frente!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Deus dá o frio conforme o cobertor

Quando eu era pequena, pedia sempre à minha mãe que jurasse que não morreria nunca. Hoje eu não peço mais, mas sigo com o mesmo sentimento. Meu maior medo é sempre o da morte das pessoas que eu amo. Tenho medo de um dia, subitamente, a morte me roubar essas pessoas importantes para sempre. Me assusta isso na morte: um dia, a pessoa está aqui e, de repente, ela vai embora para sempre. E não tem mais jeito, e nem adianta choro ou vela! Não, graças a Deus, eu não perdi ninguém, mas é que acabei de ter notícias da morte de uma criança de um ano e pouco - prima de uma amiga - e isso, é claro, mexeu comigo. Se eu choro até com o falso sofrimento dos personagens da novela das seis, não poderia ser diferente na vida real. Não conheci a pequena, nunca vi. Mas tenho certeza que era linda e especial, como são todas, e também que era a coisa mais importante na vida de todos em sua volta. Como dizem que Deus dá o frio conforme o cobertor, rezo para que o cobertor dessa família seja o mais quente que houver.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Privada japonesa

Uma grande amiga minha acaba de chegar do Japão e, é claro, promovemos aquela reuniãozinha básica para vermos as fotos e ouvirmos as histórias daquele mundo tão distante. Cada foto, uma história diferente. De repente, aparece um objeto que mereceu não apenas uma foto, mas um videozinho básico produzido pela viajante: uma privada! Alguns minutos (talvez eu esteja exagerando...) de pura tecnologia. Fora o fato de a descarga ser ativada por um sensor instalado na porta, a bendita ainda conta com diversos botões. Entre eles, um foi especialmente pensado para as épocas frias: aquecedor de assento. Outro, ilustrado com uma nota musical, quando acionado, responde produzindo um barulho semelhante ao de uma descarga. Só o barulho. Minha amiga, lógico, não entendeu qual a função daquilo e ao questionar a mocinha de olhos puxados, ouviu que serve para “evitar que as mulheres fiquem constrangidas com o barulho que elas fazem no banheiro”. Ela até explicou que antes as mulheres costumavam usar a própria descarga com esse fim, o que acabava desperdiçando bastante água. Interessante, não? Quanta tecnologia para uma privada só! E, então, eu fiquei pensando “cá comigo”: devem ser um bando de cagões mesmo esses japoneses...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Crise dos 25

Meu aniversário está chegando e só outro dia é que veio cair a minha ficha de que vou fazer 25 anos. Isso mesmo: um quarto de século! Entrei numa crise psicológica. O pior é que não posso compartilhar meus dramas pessoais com ninguém porque, como as pessoas com quem eu convivo são quase todas mais velhas que eu, todo mundo me considera sempre novíssima, praticamente “o bebê da turma”. Ou seja, se falo na minha nova crise, todos dão risada, e acham mesmo que é brincadeira. Mas não é.
Lembro que nos meus tempos de colégio, eu sempre pensei que aos 25 anos eu seria uma jornalista super-requisitada, falaria várias línguas, seria correspondente internacional de algum jornal importante na Europa e, seguramente, estaria casada com um europeu (chiquérrimo)! Ou então, teria virado uma diplomata bon vivant, tal qual Vinícius de Moraes.
Devo confessar que nada disso aconteceu comigo, meus sonhos diluíram-se nesses anos e agora eu me vejo sonhando com uma tal de “estabilidade financeira”, coisa que, naquela época, eu nunca tinha ouvido falar.
Acho que crescer é um pouco frustrante. Seus sonhos acabam, necessariamente, transformado-se em “projetos”. E tornam-se bem mais palpáveis, porém muito menos interessantes.
A parte boa disso tudo é saber que, aos 25 anos: eu continuo tendo o colo dos meus pais em qualquer situação; os meus amigos não mudaram, são os mesmos de sempre (e os melhores do mundo); e que o meu namoradinho brasileiro é muito mais chique e mais maravilhoso do que qualquer outro, seja europeu, americano, australiano, japonês,...

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

“Eu to só vendo, sabendo, sentindo, escutando
E não posso falar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar”
(Chico Buarque)

Ando quieta. Há quem pense, por isso, que se acabaram as minhas palavras, as minhas forças, a minha razão. Há quem pense até que eu perdi e que reconheci a derrota. Mas, pelo que sei, o silêncio é mais comumente atribuído aos grandes, aos inteligentes, aos vencedores - pelo menos naquelas frases óbvias que repetimos sem saber sequer se a autoria é mesmo de quem pensamos que é. Isso nem importa mais. Parece que o silêncio agora se transformou em demonstração de fraqueza. Bem, é isso o que pensam alguns. Uns poucos, é bem verdade. A maioria sabe, ou pelo menos supõe, que eu estou mesmo: só vendo, sabendo, sentindo, escutando... E me guardando para quando o carnaval chegar!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

É, eu aprendi...

De cada vivência, devemos tirar um aprendizado. Dia desses, eu acabei, sem querer, aprendendo uma porção de coisas.
Aprendi como uma pessoa pode ser influenciada por outras, e também por sua própria insegurança. E como uma pessoa pode tornar-se amarga de repente.
Aprendi que não devemos assumir um trabalho se não tivermos competência técnica e emocional para realizá-lo.
Aprendi que o desespero cega as pessoas.
Aprendi que, por mais lógico que algo nos pareça, podemos estar completamente enganados. E que, ao julgarmos alguém, devemos sempre levar em consideração essa possibilidade. Especialmente se gostamos dessa pessoa. Mais ainda: se essa pessoa gosta da gente.
Aprendi que ouvir palavras duras doe no coração. Se, além de duras, forem falsas, elas machucam a alma.
E eu que sempre achei que aprender coisas novas fosse algo gratificante... Sinceramente, esses aprendizados só me fizeram sofrer. Eu preferia não ter tomado conhecimento dessas coisas nunca!
Mas, pensando pelo lado Poliana, isso tudo teve um lado bom. Eu VOLTEI A ESCREVER mais uma vez.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Brasileiro não lê, mas compra livros

Vivemos num país onde se lê pouco, é o que dizem. Mesmo a classe média e aqueles poucos que preenchem o campo escolaridade com: “nível superior completo”. Mesmo esses, quase não lêem senão revistas de fofocas e textos curtos na Internet. Não sou uma leitora compulsiva, mas sou filha de uma e herdei “o gosto pela coisa”. Acho tão bom que fico pensando o porquê dessa falta de leitores no nosso país.
Mas se as pessoas não lêem, por que as livrarias estão sempre lotadas? Por que as casas das pessoas que eu conheço têm tantos livros nas estantes? Será o livro é um objeto de decoração, uma peça de arte, algo que dá status. Será que é chique ter a coleção do Saramago na estante mesmo não sabendo ao certo quem ele é e o que escreve? Seria o mesmo que ter um quadro da Tarsila do Amaral ou uma peça de Francisco Brennand? Ninguém quer saber o conteúdo dos livros? E o prazer da leitura, onde é que fica?
Se isso for verdade, os escritores não precisam se dar ao trabalho de escreverem novas estórias. Para lançarem um novo livro-peça-decorativa no mercado, bastaria mudarem a capa e o título. Ninguém liga para o que está escrito...
Conheço uma pessoa que tem compulsão por comprar livros. Compra todos que vê pela frente. Será que ela tem tempo de ler? Será que aquele maravilhoso do Fernando Pessoa foi direto para a estante? Imagino que talvez ela nunca vai ler coisas como “Tenho em mim todos os sonhos do mundo” ou “Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar”? De que adianta ter Fernando Pessoa na prateleira, sem conhecer suas palavras (divinas)? De que adianta ter o último livro do Diogo Mainardi na estante da sala para impressionar as visitas. Afinal, ele é polêmico, é chique, está na Veja e na lista dos mais vendidos. Aliás, nós nunca saberemos se um livro que está na lista dos mais vendidos estaria numa lista dos mais lidos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Cena chocante

Durante o carnaval, assisti a uma cena horrível, que me marcou muito: um policial espancando um homem numa parada de ônibus em Brasília. Pode ser que eu esteja errada, mas me pareceu se tratar apenas de um bêbado que estava cambaleando ou dormindo na parada. Talvez tivesse assaltado alguém... Isso é motivo para ser espancado? Que eu saiba, no Brasil não existe esse tipo de pena. Quem deu a esse cidadão (o policial) o direito de espancar alguém? Na verdade, só um estava batendo, mas eles eram dois... O outro assistia a tudo, só que não estava perplexo, como eu - que via tudo de longe. Assistia tranquilamente, como quem vê uma cena corriqueira no seu trabalho. Havia outras pessoas na parada. Elas estavam assustadas, com medo. Claro que não com medo do pobre cidadão que apanhava, ele claramente não oferecia perigo algum.
Um absurdo dar tanto poder assim a pessoas despreparadas, que se sentem no direito de mandar e desmandar, de espancar, de serem "muito machos" porque estão com uma arma na mão. E uma carteirinha de polícia. No Brasil, é assim: quem tem carteira, pode tudo. Alguns têm carteira de ministro e gastam recursos públicos para pagar despesas pessoais. Outros têm carteira de reitor e aproveitam para morar na mordomia às custas do povo. Quem tem carteira de polícia, suborna e espanca. Cada um faz o que pode, mas todos colaboram para acabar com o nosso Brasil.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A vida dos outros

Meu namorado perguntou por que eu não escrevo mais... E, em homenagem a ele, resolvi escrever sobre o filme a que assistimos ontem à noite. Muito bonito.
Na verdade, tanto a sinopse como o início do filme me fizeram lembrar do espetacular 1984, de George Orwell. Muita gente deve ter feito essa conexão e é óbvio que não é por acaso que o filme se passa justamente nesse ano.
Mas, como eu falei, foi só no início... Embora esteja classificado como um "drama político", achei que o filme explora muito também os sentimentos humanos e a possibilidade de transformação de uma pessoa. Vamos à estorinha: na Berlim oriental, um oficial é designado para vigiar um autor de peças teatrais e a sua namorada. É exercendo essa função de espionar o casal que ele entra em contato com sentimentos que não conhecia, ou com os quais não tinha contato há bastante tempo, desde que passou a viver pela Stasi: violando a intimidade alheia e torturando "artistas rebeldes". Aos poucos, ele vai se transformando e, de delator, passa a protetor do casal. Uma espécie de anjo da guarda mesmo.
O torturador alemão frio e sem sentimentos do início é o mesmo que arruína sua carreira para preservar pessoas que sequer o conhecem. Acho que essa é a idéia principal do filme: é possível recuperar as pessoas. Todos podem mudar, arrepender-se, tornar-se melhor, mais justo, mais amável.
Bonita mensagem. Utópica? Pode ser. Mas, ontem, assistindo ao filme, juro que essa transformação me pareceu perfeitamente possível.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Alex Kidd

Hoje estava vendo um joguinho de computador e me bateu uma saudade imensa do Alex Kidd. E ganha um "babau" (leia-se: cascudo) quem disser que não lembra dele. Aquele menininho cabeçudo que vivia "in the miracle world", que dava golpes de caratê e enfrentava todos os obstáculos até chegar ao final de cada fase do jogo, onde ele finalmente tinha que enfrentar o chefão. A batalha? Uma partida de pedra, papel e tesoura. Alguém aí sabe o que é isso? Algo parecido com uma partida de par ou ímpar - só que mais justa e mais interessante.
Não ando suspirando de saudades do cabeçudinho da Sega, mas de tudo o que ele representa. A minha infância, minha casa na rua Neto Mendonça (que eu nunca soube exatamente se era Neto Mendonça ou Neto de Mendonça), no edifício Maia (eu sempre achei o máximo morar no prédio que tinha o nome igual ao do meu pai), das férias em Porto de Galinhas (na época, uma praia quase desconhecida), os caranguejos nos finais de semana, as tardes com os primos jogando Master System. E nem pensem que eu era boa nisso. Perdia rapidinho e demorava horas esperando que a minha irmã zerasse o jogo para chegar a minha vez novamente. Mas eu adorava aquilo tudo. A bagunça. Os primos todos juntos, uma alegria só. Às vezes, umas briguinhas. E os clubinhos?!! Eram muito legais mesmo. O cachorro-quente da casa de tia Ana. Os picolés vermelhos, brancos, marrons (que, segundo meu tio, só mudavam a cor mesmo). Que saudade de tudo isso.

Nota: Devo registrar que depois do Alex Kidd vieram o Sonic e o Super Mario, mas eles nunca me pareceram tão simpático quanto o cabeçudinho...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Vacinas

Ultimamente não se faz outra pergunta aqui em Brasília senão "você já tomou a vacina contra a febre amarela?" Eu mesma já perguntei a todos os meus amigos e estou no pé do meu namorado, que não lembra se já tomou a bendita, que vale dez anos. Quanto a mim, antes que me perguntem, sim, eu sou vacinada! E a minha vacina ainda está valendo.
O fato é que eu fiquei pensando como a tal da vacina é uma coisa interessante e poderosa. Afinal, se todo mundo estiver vacinado, adeus perigo! Ninguém mais vai ter a doença. Me ocorreu o quanto seria bom se os cientistas desenvolvessem algumas outras vacinas. Não por uma questão de saúde pública, mas para acabar com outras mazelas nacionais.
Já pensaram que maravilha seria se um gênio qualquer descobrisse qual o vírus que causa o mal-caratismo (também conhecido como falta de vergonha na cara)? Será que não é possível? Para começar a pesquisa, seria necessário coletar o sangue de algum infectado. Alguém aí no Congresso pode ser voluntário? Sim, VO-LUN-TÁ-RIO! E nem adiantaria pedir propina, pois a lei proíbe que pessoas recebam dinheiro para participar de estudos científicos. Bom, talvez até valesse pagar algum, por debaixo dos panos mesmo, que é como funcionam as coisas na nossa política. Dessa vez, os fins justificariam os meios.
Então, depois de descoberto o vírus, o cientista poderia chamá-lo de maus caratuus e dedicar-se a inventar a danada da vacina. Seria um sucesso e logo entraria no calendário nacional de imunização. Quem sabe o Ministério da Saúde institui-se que a vacina anti maus caratuus deveria ser aplicada logo na maternidade?!!
E essa é só uma das vacinas de que o nosso país (e outros também) precisa. Já pensaram, no futuro, duas recém mamães conversando: "você já levou o fulaninho para se vacinar contra egoísmo? Eu preciso levar o beltraninho" E a outra "ih, já levei há meses, mas posso ir com você porque ele ainda tem que tomar aquela contra a preguiça e a segunda dose da que evita a falsidade". E todos os anos haveria uma campanha nacional de vacinação contra o egocentrismo. O Zé Gotinha convidaria todos os papais e as mãmaes para levarem as suas criancinhas aos postos de saúde.
Aí, quando esses bebezinhos crescessem, quem sabe alguém iria fazer alguma coisa para mudar o país e melhorar a vida do povo?! Nada de corrupção, ninguém usaria o poder em benefício próprio...
Não é por nada não, mas acho que acabei de descobrir a solução para a nossa pátria mãe gentil! E olha que eu nem vou patentear a minha idéia. Fiquem à vontade, cientistas de todas as áreas, para trabalharem nesse projeto.
Estão vendo como o Brasil ainda tem jeito??!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Um texto romântico sobre o silêncio

Hoje eu vi uma conversa animada entre duas pessoas que pareciam se querer muito bem. Infelizmente, não faço idéia do que diziam, pois pelo menos um dos dois era deficiente auditivo e eles se comunicavam por meio da Língua Brasileira de Sinais. Eu, tão falante que sou, achei a cena muito emocionante.
Fiquei pensando como deve ser viver em silêncio... Sei que essas pessoas não deixam de dizer o que querem, de se manifestar e/ou de compreender tudo o que se passa em sua volta. Não falo de palavras. Mas fico imaginando a vida sem som. Deve ser como se a tecla mute da nossa vida estivesse sempre apertada no controle remoto.
Essas pessoas não conhecem a voz do Cid Moreira, da Marília Gabriela, do Faustão, do Galvão Bueno, do Lula... Tão comuns para qualquer pessoa ouvinte. Tenho certeza que, você que está lendo, consegue escutar, agora, no seu pensamento, cada uma delas.
Mas essa não deve ser a parte ruim. Eu, do jeito que sou apaixonada pela música brasileira, penso que deve ser triste nunca ter escutado o João Gilberto cantar. Ou a Gal Costa, por exemplo. E o Ney Matogrosso, então?!! Ah, e me desculpem, mas a do Fagner também. Vozes tão maravilhosas que deveriam ser "patrimônio cultural brasileiro".
Viver em silêncio me parece bonito, mas um pouco melancólico. Não se trata de preconceito, mas acho que, para quem, como eu, conhece o som, é complicado imaginar um mundo sem vozes, barulhos e ruídos.
Pensando bem, acho que, quando estamos apaixonados, ficamos um pouco surdos e mudos. Mudos porque às vezes não conseguimos falar o que queremos: a garganta trava, o corpo sua frio, as mãos tremem... Tentamos de todas as formas, mas a voz nos trai. E, mesmo sem voz, a outra pessoa entende cada um de nossos sentimentos.
E quem nunca viu um casal apaixonado dançando? O ritmo é sempre lento, a coreografia, envolvente. Não importa qual a música, nem mesmo importa se há música... Pensando bem, não ficamos um pouco surdos e mudos. Ficamos completamente surdos e mudos. Acho que a gente esquece que existem os ouvidos e as cordas vocais... Pensamos que nosso único órgão é o coração. E queremos fazer tudo, absolutamente tudo, usando somente ele.