terça-feira, 5 de novembro de 2013

Mais uma bonequinha Manu

Certo dia, na minha infância, minha mãe estava falando sobre o meu apego e de minhas irmãs com o nosso pai, Manoel - às vezes, eu chegava a ficar doente quando ele viajava.  “Eu devia ter colocado o nome Manuela em uma de vocês”, avaliou, sem saber o quanto aquele comentário iria me tocar. Eu concordei com ela. E, no auge dos meus seis ou sete anos, tomei uma importante decisão. “Não se preocupe, mainha, esse vai ser o nome da minha filha” – o que ela, provavelmente, não deve ter levado tão a sério. Mas eu sim. 
A partir de então, todas as minhas bonecas passaram a ter o mesmo nome. Mas cada uma das Manus era diferente para mim. Tinha uma pequenininha, que tinha cabelos loiros e usava uma meia listrada. Tinha a Manu “frutinha”, que tinha cheiro de laranja. Tinha uma Manu de tecido, com cabelos de fios de nylon. E tinha a Manu bebê, por quem meu coração sempre bateu mais forte. Era uma boneca de tamanho médio, toda de plástico, dessas que tem só uma mechinha de cabelo – que eu fazia questão de enfeitar com lacinhos e fitinhas. 
Lembro de arrumar cada uma delas para “dormir”, espalhando suas caminhas pelo chão do meu quarto. Minhas irmãs, que dividiam o quarto comigo e nunca acharam muita graça nesse tipo de brincadeira, sempre iam reclamar da bagunça para a minha mãe. Na maioria das vezes, no entanto, ela deixava as “netas” ficarem morando ali durante alguns dias. Eu adorava e a retribuía com beijos e gratidão! Era uma felicidade! E é por isso que hoje eu estou assim tão contente. Por saber que, em breve, eu voltarei à minha brincadeira preferida. E, como não poderia deixar de ser, com uma bonequinha chamada Manuela. 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Sobre o incêndio no MiniCom - desabafo

Ministro Paulo Bernardo, boa noite. Meu nome é Renata Maia, sou jornalista e trabalho na Assessoria de Comunicação do Ministério das Comunicações. Estou escrevendo porque sinto que não posso me calar diante do ocorrido na última quinta-feira. Mas vou começar pelo início.

Em fevereiro deste ano, eu estava com meus colegas trabalhando normalmente quando uma jornalista que trabalha no Comitê de Imprensa ligou nos avisando que o prédio estava pegando fogo. Ao abrir a porta da nossa sala, já foi possível ver bastante fumaça no corredor. Voltei correndo, avisei aos colegas, e descemos os sete andares de escada correndo, sem nenhuma orientação. Sim, senhor ministro, foi exatamente assim. Nada de brigadistas, alarmes, luzes, orientações. Descemos uns acalmando os outros e todos respirando aquela fumaça preta. Foi um grande susto. Saí do prédio e demorei até conseguir entender o que tinha acontecido. Muitos ficaram especialmente assustados pensando na tragédia recém-ocorrida em Santa Maria (RS).

Dois dias depois, porém, voltamos todos ao trabalho, sem receber nenhuma satisfação. Vi na imprensa alguém afirmando que se tratava de uma “fatalidade”, que os brigadistas agiram muito rápido e que ninguém se machucou – embora eu também tenha sido informada de que duas ou três pessoas precisaram de algum atendimento médico.

O ocorrido me deixou bastante assustada e talvez até traumatizada. Várias vezes, de lá para cá, eu comentei com os colegas que estava “sentindo cheiro de queimado” e corri para olhar a porta em frente a minha sala, que dá exatamente para um vão localizado em cima da tal subestação de energia elétrica. Algumas vezes, cheguei a chamar os brigadistas. Vários colegas concordavam comigo e também ficavam aflitos diante da falta de informação e da notória falta de estrutura do prédio (basta observar o barulho dos elevadores, que parecem sempre que vão despencar – não sei se o mesmo acontece no elevador privativo).

No mês de agosto, ministro, eu recebi a notícia mais importante da minha vida: estou grávida. Uma gravidez tranquila e muito esperada. É claro que esse fato me fez ficar ainda mais apreensiva cada vez que o tal cheiro de queimado aparecia. Às vezes, vinha de incêndios do lado de fora, outras vezes da eterna reforma dos elevadores. E eu continuava tentando me convencer que eu estava “paranoica”. Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Mas cai.

Na última quinta-feira, eu estava trabalhando normalmente, quando senti vontade de comer alguma coisa. Como o trabalho na assessoria estava tranquilo, chamei minha colega Danyella para ir comprar um lanche comigo, em uma banca que fica localizada em frente ao Ministério da Justiça. Compramos o lanche e íamos levar para comer na sala mesmo. Ao chegarmos em frente ao prédio, vimos várias pessoas saindo de lá correndo. Algumas precisaram ser carregadas. Eu e minha colega fomos informadas de que havia, outra vez, um incêndio no prédio. É claro que nós nem subimos mais. Dessa vez, o número de pessoas que precisou de atendimento médico foi bem maior: pelo menos 30 – entre elas, uma gestante. Tenho muita fé e a certeza de que Deus me tirou dali na hora certa.

Soube pelos colegas que havia mais fumaça que da outra vez. E que as pessoas desceram gritando, correndo, largando bolsas e sapatos pelo caminho. Imagino que a situação não teria feito nada bem a mim e ao meu bebê. Mesmo do lado de fora, me preocupei com amigos, fiquei trêmula e chorei pensando que algo de mal poderia ter acontecido.

No mesmo dia, à noite, comecei a sentir uma dor na barriga. Achei que era normal e fui dormir. No outro dia, como a dor não passou, fui à emergência da Maternidade Brasília. Lá, os médicos que me atenderam perguntaram se eu tinha passado por alguma situação estressante e, ao contar sobre o ocorrido, concluíram que meu útero estava se contraindo devido a uma descarga de adrenalina. O bebê, graças a Deus, estava bem. Coincidentemente, encontrei outra servidora do MiniCom, também grávida, no hospital. E ela estava lá pelo mesmo motivo.

Os médicos me passaram um remédio e me recomendaram “evitar situações de estresse”. Mas como posso evitar, ministro, se já fui informada de que nada muito impactante foi feito e que, a partir de terça-feira, estarei de novo no sétimo andar de um edifício que parece ter uma “bomba-relógio” em seu subsolo? Como ficar calma sabendo que, a qualquer dia e hora, posso novamente precisar descer correndo os sete andares, respirando aquela fumaça preta no caminho?

O que mais incomoda é ver o discurso oficial de que foi uma fatalidade e que na terça-feira “tudo voltará ao normal”. Como se as pessoas fossem máquinas, que a gente “reinicia” e elas voltam a funcionar. Eu não sou uma máquina e não, eu não voltarei à normalidade nesta terça-feira. Nem os meus colegas. Poucos, porém, terão a coragem de admitir isso publicamente. Como se fosse errado nós querermos um direito tão básico: o de trabalhar em um local seguro.

Renata Maia

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Tum-tum-tum...

Filho (a),

A primeira vez que eu escutei seu pequeno coração batendo tão forte dentro de mim parecia que eu ia explodir de tanta emoção. Seu papai também ficou encantado, você precisava ver os olhos dele fixos na tela do computador e o ar de felicidade... Nunca vi os olhos dele brilhando tanto. É claro que, àquela altura, nós já sabíamos que você estava morando na minha barriga, mas foi naquele exato momento que nos demos conta que você já era uma criaturinha real,  vibrante, cheia de amor. Tum-tum-tum... Eu escutava aquele barulhinho mágico e tinha vontade de pedir ao médico que nunca mais terminasse o exame. Depois disso, minha principal alegria era contar os dias até o próximo exame, só para te ver, mas principalmente para ouvir o tum-tum-tum tão rápido do seu coração. Eu até gravei um dos exames, mas a emoção de te escutar “ao vivo” não tem preço. Hoje eu descobri que dá para te ouvir mesmo nas consultas de rotina, meu amor, não é o máximo? Agora vou ter que me controlar para não bater na porta do médico todos os dias. Ou para não roubar aquele aparelhinho maravilhoso para mim. Você me ajuda a escondê-lo na “nossa” barriga, sem que o doutor perceba?! Mamãe sabe que roubar é feio, filho (a), mas a causa é nobre e Deus perdoa. =)


Sua mãe

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A minha mulher maravilha

Meu sobrinho Bruno adora super heróis. Outro dia ele me perguntou qual era o meu super herói favorito. Essa é fácil: a mulher maravilha. Mas não aquela dos quadrinhos... A minha mulher maravilha.

Ela está trabalhando em Brasília e, por telefone, resolve o problema da televisão da mãe, que quebrou. E da cadeira de rodas. Precisa comprar outra cadeira, daquelas de banho. Assim que voltar, vai cuidar disso. Quando for visitar a mãe e levar as compras da semana, ela já vai levar a cadeira nova. Precisa ver se vão caber no carro, as compras e a cadeira. Cabem sim, ela sempre dá um jeito. Se for o caso, leva as fraldas depois. Aliás, ela vai logo ligar para as cuidadoras da mãe para perguntar se vai acabar algum remédio e o que precisa comprar. Aproveita para perguntar como vai a cuidadora e como vai a família da cuidadora.

Ao chegar na minha casa, onde ela também mora quando está em Brasília, faz questão de botar o jantar, preparar tapiocas (já que ela trouxe a goma do Recife) e fazer sanduíches. Depois, vai ligar para minhas irmãs. Primeiro para Lu, para saber dos netos. Como vai Raul? Melhorou da asma? E Bruno, comeu alguma coisa? Já deu o remédio dos meninos? Ela desliga e comenta que preocupa-se com a filha, que optou por não ter babá nem empregada, então cuida da casa e dos filhos sozinha. “Eu sei que ela gosta, mas é uma carga muito grande para ela”, comenta, obviamente desejando poder ajudar ainda mais. Depois liga para Carol e pergunta se ela já decidiu se vai se mudar, se visitou algum apartamento, se ela está enjoando, se Thiago já voltou do trabalho. Aproveita para insistir que Carol fique com o carro dela emprestado, diz que pode usar quantos dias quiser. Mesmo quando ela voltar, não vai precisar dele. Daí liga para o marido para conversar um pouco e sempre pergunta se ele falou com Juju e André e como eles estão. Se ele não falou, ela diz que ele deveria ligar...

Depois de trabalhar o dia todo no Ministério da Saúde, iria descansar. Mas ligaram do Procape, hospital público em que ela trabalha no Recife, pedindo para ela revisar um documento importante. Então, decide passar a noite no computador, para ajudar o Procape, tão querido. Já poderia ter se aposentado faz tempo, mas não tem coragem de “abandonar” o hospital.

De todos os irmãos, a irmã é quem ela mais encontra. Mesmo assim, às vezes comenta que se preocupa porque acha que a irmã precisa mais da atenção dela. Mas atualmente ela anda mesmo preocupada com o pé da sobrinha que mora longe e se machucou. De longe, passa os remédios e acompanha o tratamento por fotos. Está pesquisando uma passagem para ir assistir a defesa do mestrado do irmão, de quem ela está muito orgulhosa. E tem também outro irmão, que mora na fazenda. E ela liga sempre perguntando se choveu, se a bomba de água está funcionando, se a vaca deu leite, se o caseiro melhorou, se precisa de alguma coisa, se já providenciaram uma proteção para as portas, afinal não podem deixar cobras entrarem em casa! Envia sempre ajuda e amor. Mesmo não gostando de bicho e de mato, fez questão de visita-lo quando ele se mudou, para ver “se ele estava bem instalado”. Ele tem quase dois metros, mas continua sendo seu irmão pequenininho...

No fim de semana, ela sai com os amigos do marido e chega tarde. Mas acorda cedo porque prometeu levar os netos para a praia. Não à toa, eles são loucos por ela. O mais velho liga várias vezes e pergunta: Vó, tu vai demorar? Ele só gosta do sanduíche que ela faz: é muito mais gostoso, segundo ele. Já o mais novo pergunta insistentemente à mãe: Eu posso ir para a casa da minha avó? Posso ficar três dias lá?

É, "Nuno", no fundo, nós dois somos loucos pela mesma super-heroína: a mulher maravilha. E ela também atende pelo nome de "vovó Ana".