Ministro Paulo
Bernardo, boa noite. Meu nome é Renata Maia, sou jornalista e trabalho na
Assessoria de Comunicação do Ministério das Comunicações. Estou escrevendo
porque sinto que não posso me calar diante do ocorrido na última quinta-feira.
Mas vou começar pelo início.
Em fevereiro
deste ano, eu estava com meus colegas trabalhando normalmente quando uma jornalista
que trabalha no Comitê de Imprensa ligou nos avisando que o prédio estava
pegando fogo. Ao abrir a porta da nossa sala, já foi possível ver bastante
fumaça no corredor. Voltei correndo, avisei aos colegas, e descemos os sete
andares de escada correndo, sem nenhuma orientação. Sim, senhor ministro, foi
exatamente assim. Nada de brigadistas, alarmes, luzes, orientações. Descemos
uns acalmando os outros e todos respirando aquela fumaça preta. Foi um grande
susto. Saí do prédio e demorei até conseguir entender o que tinha acontecido.
Muitos ficaram especialmente assustados pensando na tragédia recém-ocorrida em
Santa Maria (RS).
Dois dias
depois, porém, voltamos todos ao trabalho, sem receber nenhuma satisfação. Vi
na imprensa alguém afirmando que se tratava de uma “fatalidade”, que os
brigadistas agiram muito rápido e que ninguém se machucou – embora eu também
tenha sido informada de que duas ou três pessoas precisaram de algum
atendimento médico.
O ocorrido me
deixou bastante assustada e talvez até traumatizada. Várias vezes, de lá para
cá, eu comentei com os colegas que estava “sentindo cheiro de queimado” e corri
para olhar a porta em frente a minha sala, que dá exatamente para um vão
localizado em cima da tal subestação de energia elétrica. Algumas vezes,
cheguei a chamar os brigadistas. Vários colegas concordavam comigo e também
ficavam aflitos diante da falta de informação e da notória falta de estrutura
do prédio (basta observar o barulho dos elevadores, que parecem sempre que vão
despencar – não sei se o mesmo acontece no elevador privativo).
No mês de
agosto, ministro, eu recebi a notícia mais importante da minha vida: estou
grávida. Uma gravidez tranquila e muito esperada. É claro que esse fato me fez
ficar ainda mais apreensiva cada vez que o tal cheiro de queimado aparecia. Às
vezes, vinha de incêndios do lado de fora, outras vezes da eterna reforma dos
elevadores. E eu continuava tentando me convencer que eu estava “paranoica”.
Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Mas cai.
Na última
quinta-feira, eu estava trabalhando normalmente, quando senti vontade de comer
alguma coisa. Como o trabalho na assessoria estava tranquilo, chamei minha
colega Danyella para ir comprar um lanche comigo, em uma banca que fica
localizada em frente ao Ministério da Justiça. Compramos o lanche e íamos levar
para comer na sala mesmo. Ao chegarmos em frente ao prédio, vimos várias
pessoas saindo de lá correndo. Algumas precisaram ser carregadas. Eu e minha
colega fomos informadas de que havia, outra vez, um incêndio no prédio. É claro
que nós nem subimos mais. Dessa vez, o número de pessoas que precisou de
atendimento médico foi bem maior: pelo menos 30 – entre elas, uma gestante. Tenho
muita fé e a certeza de que Deus me tirou dali na hora certa.
Soube pelos
colegas que havia mais fumaça que da outra vez. E que as pessoas desceram
gritando, correndo, largando bolsas e sapatos pelo caminho. Imagino que a
situação não teria feito nada bem a mim e ao meu bebê. Mesmo do lado de fora,
me preocupei com amigos, fiquei trêmula e chorei pensando que algo de mal
poderia ter acontecido.
No mesmo dia, à
noite, comecei a sentir uma dor na barriga. Achei que era normal e fui dormir.
No outro dia, como a dor não passou, fui à emergência da Maternidade Brasília.
Lá, os médicos que me atenderam perguntaram se eu tinha passado por alguma
situação estressante e, ao contar sobre o ocorrido, concluíram que meu útero
estava se contraindo devido a uma descarga de adrenalina. O bebê, graças a
Deus, estava bem. Coincidentemente, encontrei outra servidora do MiniCom,
também grávida, no hospital. E ela estava lá pelo mesmo motivo.
Os médicos me
passaram um remédio e me recomendaram “evitar situações de estresse”. Mas como
posso evitar, ministro, se já fui informada de que nada muito impactante foi
feito e que, a partir de terça-feira, estarei de novo no sétimo andar de um
edifício que parece ter uma “bomba-relógio” em seu subsolo? Como ficar calma
sabendo que, a qualquer dia e hora, posso novamente precisar descer correndo os
sete andares, respirando aquela fumaça preta no caminho?
Renata Maia
2 comentários:
Renata vc foi uma cidadã ao escrever o texto; exercer a cidadania- cada um de nós- fará o futuro do bebê que está na sua barriga. Que venha por aí uma pessoa como vc, sua mãe^....seu bisavô- esse não se calou ou acovardou nem preso pela Ditadura Militar... Beijo e que o seu Anjinho da Guarda fique sempre perto de vc. Te amo! Tatiana Marques
Tati estou orgulhosa da sua coragem em não calar diante do ocorrido!!!
Graças a Deus Manu fez voce sentir fome e assim não passou pela angustia e a outra gestante com certeza passou.Sr.Ministro por favor tome uma providencia antes que seja tarde demais e ocorra uma tragedia!
Bjus Tia Ana Maia.
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