sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Sobre o incêndio no MiniCom - desabafo

Ministro Paulo Bernardo, boa noite. Meu nome é Renata Maia, sou jornalista e trabalho na Assessoria de Comunicação do Ministério das Comunicações. Estou escrevendo porque sinto que não posso me calar diante do ocorrido na última quinta-feira. Mas vou começar pelo início.

Em fevereiro deste ano, eu estava com meus colegas trabalhando normalmente quando uma jornalista que trabalha no Comitê de Imprensa ligou nos avisando que o prédio estava pegando fogo. Ao abrir a porta da nossa sala, já foi possível ver bastante fumaça no corredor. Voltei correndo, avisei aos colegas, e descemos os sete andares de escada correndo, sem nenhuma orientação. Sim, senhor ministro, foi exatamente assim. Nada de brigadistas, alarmes, luzes, orientações. Descemos uns acalmando os outros e todos respirando aquela fumaça preta. Foi um grande susto. Saí do prédio e demorei até conseguir entender o que tinha acontecido. Muitos ficaram especialmente assustados pensando na tragédia recém-ocorrida em Santa Maria (RS).

Dois dias depois, porém, voltamos todos ao trabalho, sem receber nenhuma satisfação. Vi na imprensa alguém afirmando que se tratava de uma “fatalidade”, que os brigadistas agiram muito rápido e que ninguém se machucou – embora eu também tenha sido informada de que duas ou três pessoas precisaram de algum atendimento médico.

O ocorrido me deixou bastante assustada e talvez até traumatizada. Várias vezes, de lá para cá, eu comentei com os colegas que estava “sentindo cheiro de queimado” e corri para olhar a porta em frente a minha sala, que dá exatamente para um vão localizado em cima da tal subestação de energia elétrica. Algumas vezes, cheguei a chamar os brigadistas. Vários colegas concordavam comigo e também ficavam aflitos diante da falta de informação e da notória falta de estrutura do prédio (basta observar o barulho dos elevadores, que parecem sempre que vão despencar – não sei se o mesmo acontece no elevador privativo).

No mês de agosto, ministro, eu recebi a notícia mais importante da minha vida: estou grávida. Uma gravidez tranquila e muito esperada. É claro que esse fato me fez ficar ainda mais apreensiva cada vez que o tal cheiro de queimado aparecia. Às vezes, vinha de incêndios do lado de fora, outras vezes da eterna reforma dos elevadores. E eu continuava tentando me convencer que eu estava “paranoica”. Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Mas cai.

Na última quinta-feira, eu estava trabalhando normalmente, quando senti vontade de comer alguma coisa. Como o trabalho na assessoria estava tranquilo, chamei minha colega Danyella para ir comprar um lanche comigo, em uma banca que fica localizada em frente ao Ministério da Justiça. Compramos o lanche e íamos levar para comer na sala mesmo. Ao chegarmos em frente ao prédio, vimos várias pessoas saindo de lá correndo. Algumas precisaram ser carregadas. Eu e minha colega fomos informadas de que havia, outra vez, um incêndio no prédio. É claro que nós nem subimos mais. Dessa vez, o número de pessoas que precisou de atendimento médico foi bem maior: pelo menos 30 – entre elas, uma gestante. Tenho muita fé e a certeza de que Deus me tirou dali na hora certa.

Soube pelos colegas que havia mais fumaça que da outra vez. E que as pessoas desceram gritando, correndo, largando bolsas e sapatos pelo caminho. Imagino que a situação não teria feito nada bem a mim e ao meu bebê. Mesmo do lado de fora, me preocupei com amigos, fiquei trêmula e chorei pensando que algo de mal poderia ter acontecido.

No mesmo dia, à noite, comecei a sentir uma dor na barriga. Achei que era normal e fui dormir. No outro dia, como a dor não passou, fui à emergência da Maternidade Brasília. Lá, os médicos que me atenderam perguntaram se eu tinha passado por alguma situação estressante e, ao contar sobre o ocorrido, concluíram que meu útero estava se contraindo devido a uma descarga de adrenalina. O bebê, graças a Deus, estava bem. Coincidentemente, encontrei outra servidora do MiniCom, também grávida, no hospital. E ela estava lá pelo mesmo motivo.

Os médicos me passaram um remédio e me recomendaram “evitar situações de estresse”. Mas como posso evitar, ministro, se já fui informada de que nada muito impactante foi feito e que, a partir de terça-feira, estarei de novo no sétimo andar de um edifício que parece ter uma “bomba-relógio” em seu subsolo? Como ficar calma sabendo que, a qualquer dia e hora, posso novamente precisar descer correndo os sete andares, respirando aquela fumaça preta no caminho?

O que mais incomoda é ver o discurso oficial de que foi uma fatalidade e que na terça-feira “tudo voltará ao normal”. Como se as pessoas fossem máquinas, que a gente “reinicia” e elas voltam a funcionar. Eu não sou uma máquina e não, eu não voltarei à normalidade nesta terça-feira. Nem os meus colegas. Poucos, porém, terão a coragem de admitir isso publicamente. Como se fosse errado nós querermos um direito tão básico: o de trabalhar em um local seguro.

Renata Maia

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Tum-tum-tum...

Filho (a),

A primeira vez que eu escutei seu pequeno coração batendo tão forte dentro de mim parecia que eu ia explodir de tanta emoção. Seu papai também ficou encantado, você precisava ver os olhos dele fixos na tela do computador e o ar de felicidade... Nunca vi os olhos dele brilhando tanto. É claro que, àquela altura, nós já sabíamos que você estava morando na minha barriga, mas foi naquele exato momento que nos demos conta que você já era uma criaturinha real,  vibrante, cheia de amor. Tum-tum-tum... Eu escutava aquele barulhinho mágico e tinha vontade de pedir ao médico que nunca mais terminasse o exame. Depois disso, minha principal alegria era contar os dias até o próximo exame, só para te ver, mas principalmente para ouvir o tum-tum-tum tão rápido do seu coração. Eu até gravei um dos exames, mas a emoção de te escutar “ao vivo” não tem preço. Hoje eu descobri que dá para te ouvir mesmo nas consultas de rotina, meu amor, não é o máximo? Agora vou ter que me controlar para não bater na porta do médico todos os dias. Ou para não roubar aquele aparelhinho maravilhoso para mim. Você me ajuda a escondê-lo na “nossa” barriga, sem que o doutor perceba?! Mamãe sabe que roubar é feio, filho (a), mas a causa é nobre e Deus perdoa. =)


Sua mãe