domingo, 25 de março de 2012

O Facebook, esse fofoqueiro...

Antigamente, a gente passava por certas situações constrangedoras. Eram as chamadas “gafes” ou “bolas fora”. Não lembra? Coisas como esquecer o aniversário de um amigo, parabenizar a vizinha pela gravidez (que nunca existiu) ou perguntar por que a namorada do seu primo, que agora já é ex mas você não sabe, não veio com ele a um jantar da família. Coisa do passado.
Graças ao Facebook, o maior fofoqueiro de todos os tempos, ninguém mais precisa passar por isso. Basta dar uma conferida na sua página uma vez ao dia para ver quem está feliz, quem está solteiro, quem está preso no trânsito e quem apoia a campanha contra a compra de ovos de páscoa. O melhor mesmo é checar duas ou três vezes por dia, “só por garantia” de que nada importante escape à nossa timeline – sempre há aqueles amigos que postam dezenas de bobagens e frases de autoajuda e nos impedem de acompanhar o que realmente importa, os “babados fortes”, como diria uma amiga minha. Os mais precavidos (e menos ocupados) até preferem deixar o seu perfil sempre aberto no iphone e checam, a cada meia hora, se há novidades. Afinal, como diz o slogan da Band News, “em 20 minutos, tudo pode mudar”.
Quem termina um namoro, não pode mais “curtir a fossa” como antigamente. É preciso correr para ficar linda e parecer feliz. Não basta ir às festas. É preciso postar suas fotos e mostrar “àquele babaca” e a todos os seus amigos como você está radiante e, o mais importante, magra.
Quem viaja, não pode esperar voltar para contar aos amigos o quanto o passeio foi incrível. É preciso publicar as fotos logo, urgente! Mesmo que isso signifique que você vai perder alguns momentos das férias tentando encontrar uma conexão boa o suficiente para carregar as imagens... Mas vale tudo para marcar presença na timeline dos seus amigos, antes que alguém te esqueça.
Ninguém pode sumir do Facebook, ou corre o risco de ser esquecido. Pior, de ser o último a saber. De tudo. Outro dia, li num blog que um casal resolveu não enviar convites para a cerimônia de casamento. Achou mais prático e econômico enviar apenas uma mensagem “particular” aos convidados pela rede social. Quem não está no Facebook, corre o risco de perder os melhores eventos, a última fofoca e até os amigos de infância.
O texto ficou grande, né? E, acreditem, eu teria muito mais o que dizer... Mas é que já faz mais de meia hora que não checo a minha página virtual e... Sabem como é, né? Não quero e não posso perder nenhum “flash”! Fui!!

quinta-feira, 8 de março de 2012

O assalto

No momento em que ouvi a ordem para que descêssemos do carro, seguida imediatamente por um tiro, eu não consegui pensar em estratégias, em reação, em procurar um local seguro. Naquele momento, eu apenas senti medo. Muito. Medo de morrer e também um medo enorme de que algo de mau acontecesse a alguma daquelas pessoas tão “essenciais” para mim. Instintivamente, olhei para o lado oposto e vi o meu amor me esperando, com a porta do carro aberta. Rapidamente (não tenho certeza), fui em sua direção, sem que para isso fosse necessário pensar, escolher. Era como se a minha mente tivesse “desligado” com o susto e o meu corpo se movimentasse por conta própria.
Saí do carro e senti quando o meu amor colocou seu braço sobre o meu ombro, como se me abraçasse e protegesse. Não deu um passo até que eu o estivesse acompanhando. Enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo, ele me guiava até um local mais seguro. Graças a Deus, tudo terminou bem.
Sem dúvidas, esse assalto foi o momento mais tenso da minha vida e, infelizmente, ainda tenho lembrado disso com certa frequência. Mas sempre que eu me lembro do que aconteceu, junto com a angústia, sinto a ternura do braço dele sobre mim. Me guiando, me apoiando, me protegendo. Me amando, enfim.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Relacionamento sério

Hoje eu estava pensando... Ainda bem que eu só aderi ao facebook depois de casada! Explico: eu detestaria ter que colocar no meu status que estava “em um relacionamento sério”. Sei que é uma simples questão de tradução, ou então de compatibilidade com a geração moderninha que “detesta rótulos”, mas sempre que leio isso na página de alguém, fico pensando sobre como deve ser chato e entediante um relacionamento sério.
Fosse eu, escreveria: “em um relacionamento leve, divertido e especial”. Sério nunca! Dividir as alegrias e a diversão é a melhor parte do relacionamento. Acho até que se duas pessoas não conseguem rir muito juntas, não dá para serem felizes. Melhor dar tchau e... Como é mesmo que falam por aí? “Fazer a fila andar e a catraca girar”, acho que é isso.
Até os meus amigos costumam ser pessoas que me divertem, dizem besteiras, não costumam levar a vida muito a sério e sabem rir de si e dos outros. Eles são simplesmente os melhores!
Para mim, relacionamento sério, só com o chefe. E olhe lá...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Em Brasília, dois assuntos reinam soberanos

Quando eu cheguei em Brasília, eu ainda gostava de política e achei fascinante a idéia de estar pertinho do poder. Achei que as pessoas aqui respiravam política. Que nada. Se engana quem pensa que em Brasília as pessoas se interessam mais sobre as grandes questões do país do que no resto do Brasil. No Recife, qualquer conversa de botequim acaba passando pela política até chegar no futebol. Aqui é bem diferente. Na capital do país, dois assuntos reinam soberanos: a chuva e a seca. Talvez nenhuma outra cidade brasileira viva tão intensamente a sua condição climática, o que, vamos combinar, é muito mais interessante que as calorosas discussões político-partidárias...
Costuma-se dizer por aqui que em Brasília chove apenas uma vez por ano. E que essa chuva dura uns seis meses. Uma piada, claro. Mas que aproxima-se bastante da verdade. Por seis meses, chove-se quase todos os dias. E muito. E forte. O céu fica cinza, preto até. A gente vê a chuva chegando e sabe exatamente quando ela vai cair. Ou melhor: desabar! É possível ouvir os trovões e ver os raios, que algumas vezes chegam a assustar.
Nesse período, pode apostar que a palavra chuva está presente em qualquer diálogo na capital federal. Quase todos os residentes de Brasília comemoram as primeiras chuvas - para, em seguida, começar a lamentá-las. “Finalmente a chuva chegou! Que maravilha!”, “Os gramados estão verdinhos novamente!”, “Adoro este cheiro de terra molhada!” exclamam de felicidade pelos quatro cantos – literalmente – do Distrito Federal. Até as cigarras unem-se ao coro, cantando sem parar. Só eu não costumo aderir às comemorações, embora ache lindo ver o cerrado ressurgindo das cinzas...
Logo, no entanto, os brasilienses daqui e de todas as cidades do país começam a reclamar do aguaceiro que invade todos os cantos da cidade, da fúria das águas e da terra vermelha nas roupas e sapatos. É chegada, então, a hora de ansiar pela seca!
E ela chega. Lá pelos meados de maio ou junho, as nuvens se afastam suavemente, dando espaço ao sol, cada vez mais ardente. Não demora até que as plantas sequem, assim como a pele e a boca dos brasilienses. Os narizes começam a sangrar, enquanto os olhos teimam em arder. Todo esse sofrimento, no entanto, é recompensado com um céu que muda de cor a cada dia: rosa, laranja, amarelo. E também com os lindos ipês coloridos que enfeitam toda a cidade.
Depois de algumas semanas, a baixa umidade passa a ser o principal assunto. Mesmo no rádio e na televisão não se fala em outra coisa. É preciso cuidar-se. Beber água, evitar exercícios em horários muito quentes, usar protetor solar. Então, de repente, todo mundo fica com saudades da chuva.
Até que, quando ninguém agüenta mais respirar tanta fumaça, São Pedro resolve voltar. E, com ele, a cantoria das cigarras! Que não chega a ser um canto como eu imaginava quando, criança, ouvia a fábula da formiga e da cigarra. Para falar a verdade, parece um grito, um apelo, uma grande discussão onde todas elas querem falar ao mesmo tempo. Às vezes, até parece que estão discutindo política...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

No meu coração, neva

Ninguém sabe, mas eu guardo uma casinha verde dentro do meu coração. Uma casinha bem distante, com aspecto rural, perdida numa região gelada dos Estados Unidos. O que a casinha tem de especial? Vou contar... Para começar, devo dizer que em toda a casa, tem um carpete onde eu passeio descalça, ignorando os apelos de que vá calçar meias para aquecer meus pés... E na sala tem uma parede de vidro, de onde, à noite, podemos observar vários animais, que vêm se alimentar por ali. Há também uma cozinha repleta de sabores e quartos cheios de carinho, segurança e simplicidade.
Lá embaixo, fica um porão onde é possível improvisar acampamentos e festinhas. Atrás da casa, não há nada além de uma grande e misteriosa floresta. Mas na frente, há muito espaço para correr e brincar, até mesmo no inverno. É, amigos, vocês não sabem, mas no meu coração, neva. Só que a tal casinha é tão aconchegante que nela ninguém passa frio.
Bom, mas eu ainda nem falei da parte mais incrível. Nessa casinha, moram duas bonequinhas loiras, doces e sapecas. Eternas crianças! Até ouvi dizer que cresceram... Que nada! Aqui dentro, é como a Terra do Nunca do Peter Pan, sabem? Elas permanecem pequenininhas. Uma, colecionando bonecas de porcelana. A outra, globos de água. Uma, dando trabalho para comer. A outra, contando que nunca em toda a sua vida vai beijar na boca – “yuck”. Uma chora e pede que eu não vá embora nunca. A outra estuda português para um dia vir me visitar. Todos os dias elas acordam e dormem aqui dentro de mim. Nesse aconchegante lar, como não poderia deixar de ser, mora também uma mãe – com todos os adjetivos que esta palavra pede: amiga, protetora, carinhosa.
Certa vez, ouvi dizer que o amor morava ali. É isso mesmo, querido Bruce. E que outro endereço pode ter o amor senão o coração?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Boró

Já fazia um certo tempo que ele morava ali, numa área nobre de Brasília, região central, avenida grande, arborizada. Morava sozinho. Todas as vezes que eu passava em frente à casa dele – que mesmo sendo um barraco de lona não deixava de ser uma casa – olhava para ver se ele estava por lá.

Achava divertida a iniciativa dele de colocar, próximo à pista, uma placa apontando para a sua própria casa, com os dizeres “Boró”. Concluí que aquele era o nome dele e contei a história para o meu marido, que também passou a se interessar pela vida daquele senhor misterioso.

Quem seria Boró? O que fazia? Por que ele teria colocado aquela placa? Boró teria filhos? Algum parente? Parecia que não, já que nunca víamos mais ninguém por ali. Boró era um solitário, o que tornava não apenas o personagem, mas a placa ainda mais interessante.

Boró era tema de longas conversas entre meu marido e eu. Achávamos muito justo ele ter direito a uma placa, um endereço. Ainda mais aqui em Brasília, a cidade das placas. Aquela iniciativa era, para nós, uma forma de dizer ao mundo que ele também era gente, cidadão, que morava, que tinha um endereço.

Certo dia, comentando sobre o nosso personagem urbano preferido, uma amiga nos deu um verdadeiro “banho de água fria”. Explicou que boró era uma espécie de isca para pesca muito comum aqui em Brasília. O tal senhor, deduziu minha amiga, devia vender Boró. "Por isso a placa", revelou, sem imaginar o tamanho da nossa decepção.

Ficamos em silêncio. Nunca mais poderíamos rir da placa, conversar, hipotetizar... Desde então, passamos a olhar para a casa do Boró com certo carinho e uma ponta de frustração.

Outro dia, passei por lá e percebi que ele foi embora, ninguém sabe para onde. Mudou-se de vez, levou o barraco e os poucos pertences. E o que é pior: levou a placa que tanto nos inspirou. Nunca mais teremos notícias dele. Que pena.

Boró, onde você estiver, obrigada! Nossa relação foi muito boa enquanto durou.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O meu lugar

Toda noite, depois da nossa leitura, ele se acomoda na cama, arruma o cobertor, levanta o braço e me diz: pronto, pode vir para o seu lugar. E eu vou. Coloco a cabeça no seu ombro e ele deita o braço sobre mim. E assim permanecemos alguns minutos. Poucos. Tempo suficiente para eu sentir que ele encontrou a definição exata. Aquele é o meu lugar, só meu, e não existe nenhum outro canto do planeta onde eu preferisse estar. Às vezes, a gente aproveita este momento para conversar sobre alguma coisa que aconteceu no dia. Outras, simplesmente ficamos em silêncio. Mas sempre, sem sombra de dúvida, este é o melhor momento do meu dia.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Crianças

Na quadra onde eu moro, tem muitos parquinhos e, conseqüentemente (ou não), muitas crianças. Todos os dias, quando desço para ir ao salão de beleza, ao pilates, à farmácia, eu as encontro pelo caminho. Elas têm vários tamanhos e idades. Há uma mãe que passeia com seus gêmeos de um ano, mais ou menos, e ainda uma menininha um pouco maior. Ela passa sempre muito séria e eu a compreendo, porque deve estar tão cansada... Lá perto, tem também uma academia com escola de natação para crianças. Pela manhã, é possível ver aquela fila de mães e babás corujas, olhando suas crianças, torcendo, mandando – muitas vezes sem sucesso - que obedeçam à tia.

Eu sempre gostei de crianças. Cada uma que passa arranca, pelo menos, um sorriso meu. Olho tanto para elas, que já encontrei três ou quatro perdidas dos pais em shoppings, festas e supermercados, em ocasiões diferentes. Quando acontece, tento acalmar o pequeno e acabo achando o “responsável” - se é que podemos chamar assim - rapidamente.

Mas o que eu quero dizer é que, ultimamente, ando me comovendo muito quando vejo um pai passeando com a sua criança. E conversando com ela, ensinando, brincando e, até mesmo, dando uma bronca – coisa que presenciei semana passada, no shopping. Uma bronca carinhosa, de quem educa, de quem se preocupa em criar um homem de verdade.

Não sei exatamente o motivo deste súbito encantamento assim tão forte. Talvez seja porque eu sempre quis ser mãe, sempre soube que um dia seria e sempre me imaginei passeando com os meus bebês por aí. Sempre imaginei uma “Manuela” com as minhas bochechas e o meu cabelo loirinho. Mas só recentemente tenho começado a pensar no meu amor como pai. A imaginar uma criança com a carinha dele. A pensar que tipos de programas eles – pai e filho – vão fazer juntos. E a cada dia me convenço mais que, assim como ele é o melhor marido que eu poderia encontrar, será também um pai maravilhoso. E lindo.

PS – Não, amigos, eu não estou grávida!!! Deve ser apenas um instinto maternal crescendo... rsrs

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Arianos

Há alguns anos, uma colega desenhou o meu mapa astral. Não que eu seja lá muito interessada nesses assuntos astrológicos, mas lembro-me bem que ela me explicou cada detalhe daquele desenho que mais parecia um calendário antigo... Segundo ela, as pessoas de Áries têm iniciativa, são desbravadoras, corajosas, criativas. Para que eu pudesse compreender melhor, ela me falou que um exemplo de um ariano “típico” é o Moisés. Sim, aquele que liderou o povo judeu em fuga da escravidão e guiou seu povo no deserto durante quarenta anos... Não estão ligando o nome à pessoa? Fácil: Moisés é aquele que dividiu o Mar Vermelho, abrindo passagem para os judeus. Bem, eu devo confessar que fiquei bastante vaidosa com a comparação. Quem não ficaria?

Lamentavelmente, amigos, a explicação não acabou aí. Minha colega continuou falando sobre Moisés - cuja história eu conhecia tão pouco. O líder judeu morreu sem chegar à terra que tanto sonhara. Sim, meus caros, é também característica típica do nosso signo (meu e de Moisés) não concluir o que começou, não chegar ao fim, não realizar. Percebendo o meu choque diante dessa informação, a doce e atenciosa colega começou a falar dos arianos como pessoas com uma missão especial, líderes que “abrem os caminhos” para que outros possam realizar...

Mas eu não consegui mais prestar atenção. Só pensava em tudo aquilo que eu já tinha “deixado pelo caminho”. Nas coisas que comecei e não terminei. E, entre tantas lembranças, é claro que o pensamento colocou uma lente de aumento naquilo que mais me causa frustração: o fato de não conseguir, nunca, terminar de escrever uma história. Quantos capítulos, contos, livros eu já comecei e esqueci, como diria o caderno do Toquinho, “num canto qualquer”. Quantas anotações, cadernos e blocos espalhados. Quantas idéias soltas na cabeça. Quantos arquivos perdidos por computadores antigos. Quantos blogs abandonados à própria sorte neste mundo virtual... Tantas vezes já repeti para mim mesma que “dessa vez” eu iria, sim, escrever o meu livro.

E o mais curioso é que as pessoas queridas me incentivam e chegam até a me cobrar. Elas acreditam em mim, acham que um dia esse bendito livro sai. É legal contar com essa torcida tão especial. E, se querem saber, eu também acredito. Afinal, segundo me explicou a minha colega naquele mesmo dia, arianos costumam ser pessoas bastante otimistas.