quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Um texto romântico sobre o silêncio

Hoje eu vi uma conversa animada entre duas pessoas que pareciam se querer muito bem. Infelizmente, não faço idéia do que diziam, pois pelo menos um dos dois era deficiente auditivo e eles se comunicavam por meio da Língua Brasileira de Sinais. Eu, tão falante que sou, achei a cena muito emocionante.
Fiquei pensando como deve ser viver em silêncio... Sei que essas pessoas não deixam de dizer o que querem, de se manifestar e/ou de compreender tudo o que se passa em sua volta. Não falo de palavras. Mas fico imaginando a vida sem som. Deve ser como se a tecla mute da nossa vida estivesse sempre apertada no controle remoto.
Essas pessoas não conhecem a voz do Cid Moreira, da Marília Gabriela, do Faustão, do Galvão Bueno, do Lula... Tão comuns para qualquer pessoa ouvinte. Tenho certeza que, você que está lendo, consegue escutar, agora, no seu pensamento, cada uma delas.
Mas essa não deve ser a parte ruim. Eu, do jeito que sou apaixonada pela música brasileira, penso que deve ser triste nunca ter escutado o João Gilberto cantar. Ou a Gal Costa, por exemplo. E o Ney Matogrosso, então?!! Ah, e me desculpem, mas a do Fagner também. Vozes tão maravilhosas que deveriam ser "patrimônio cultural brasileiro".
Viver em silêncio me parece bonito, mas um pouco melancólico. Não se trata de preconceito, mas acho que, para quem, como eu, conhece o som, é complicado imaginar um mundo sem vozes, barulhos e ruídos.
Pensando bem, acho que, quando estamos apaixonados, ficamos um pouco surdos e mudos. Mudos porque às vezes não conseguimos falar o que queremos: a garganta trava, o corpo sua frio, as mãos tremem... Tentamos de todas as formas, mas a voz nos trai. E, mesmo sem voz, a outra pessoa entende cada um de nossos sentimentos.
E quem nunca viu um casal apaixonado dançando? O ritmo é sempre lento, a coreografia, envolvente. Não importa qual a música, nem mesmo importa se há música... Pensando bem, não ficamos um pouco surdos e mudos. Ficamos completamente surdos e mudos. Acho que a gente esquece que existem os ouvidos e as cordas vocais... Pensamos que nosso único órgão é o coração. E queremos fazer tudo, absolutamente tudo, usando somente ele.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu li todo o texto ouvindo avoz da autora.....que por sinal é um dos meus "patrimônios"......Infelizmente imaginei ouvir a sua voz, mas ela não está aqui! E aí, chorei.....porque ela me faz tanto falta, que fico muda.