segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Um belo exemplo

Quando eu cheguei em Brasília, eu não conhecia ninguém que morasse aqui. É verdade que, com o tempo, alguns amigos muito próximos mudaram para cá. Até a minha irmã querida veio passar uns meses. Mas, quando cheguei, conhecia apenas algumas amigas da minha mãe, que vinham por aqui a trabalho, uma vez ou outra.
E sempre que eu conto isso, as pessoas me perguntam se, então, eu sofri muito. Comentam aquele clichê de que os moradores de Brasília são "frios" e "individualistas". A minha resposta é sempre a mesma.
Nunca tive dificuldades para fazer amigos e tenho muita sorte. Sempre encontro gente muito querida pelo caminho. Todas as vezes em que eu "embarquei" sozinha para alguma aventura longe de casa, Deus colocou pessoas especiais à minha volta. Aqui, não foi diferente.
Não demorou muito para que eu conhecesse pessoas legais, que sabendo que eu estava sozinha, me convidavam para suas festas e baladas. Mas quem já viveu a experiência de mudar de cidade sozinho, sabe que não é no sábado à noite que o coração aperta de saudades de casa. Mas no domingo à tarde, quando a única opção é ir ao cinema, sozinho. Ou no feriado, na hora do almoço... Sem companhia, lá vamos nós a uma praça de alimentação do shopping!
Mas eu falei que tenho sorte, não? Pois é. Um colega de trabalho super gente fina me convidou para um churrasco, aniversário de um amigo dele. Consultei a minha agenda e, como não tinha nenhum compromisso, aceitei. (Ei, isso foi uma piada... Eu não conhecia ninguém, lembra? Topei na hora!)
E foi nesse churrasco que conheci a Silvinha - que, por coincidência (ou não), também estava lá a convite de uma amiga e sequer conhecia o aniversariante. Na volta para casa, ela me deu uma carona e este foi o início de uma grande amizade.
E o que essa amizade tem de diferente das outras? Simples. A minha amiga fez questão de dividir a família dela comigo. Primeiro, me apresentou o André, seu irmão. Tão diferente dela, que é mais tímida e reservada, André é extrovertido e falante - e logo também se tornou meu amigo íntimo. Em poucos dias, Silvinha e André me convidaram para almoçar (ou jantar, confesso que não lembro) na casa dos pais deles. Eu fui, claro, e me encantei desde esse primeiro dia por toda a família. O Mário, irmão mais velho deles, e Isabel, a mãe, também gostavam muito de conversar. Já o pai deles, dr. Fernando, e a esposa do Mário, a Simone, eram mais reservados, mas me receberam igualmente bem. Sabe essas pessoas de quem a gente gosta de sentar perto, para puxar conversa e descobrir histórias interessantes? Pois é. A forma como me receberam, com muita simpatia e sem cerimônia, me deixou muito à vontade. Tanto que, a partir de então, virei "habitué".
TODOS os sábados e TODOS os domingos, eu chegava na casa deles para almoçar e só saía depois do jantar. O André, com o jeito brincalhão dele, me provocava: "Renatinha, você por aqui de novo?" E eu ria, sem nenhum constrangimento. Porque não era intenção dele me constranger, mas me divertir. E isso era muito evidente.
O tempo passou e eu conheci muita gente. Depois, comecei a namorar, casei, tive minha filhota. Naturalmente, a minha freqüência àquela casa diminuiu bastante, mas o carinho por todos da família continuou o mesmo. O contato maior hoje em dia é principalmente com Silvinha, mas considero todos como amigos muito queridos.
Ontem foi um dia muito triste porque o dr. Fernando, pai da Silvinha, do André e do Mário, faleceu. E, em meio a toda a dor dessa querida família, eu queria muito dizer uma coisa: obrigada. Sim, isso mesmo. Muito obrigada, amigos.
Por terem me dado a oportunidade de assistir, ainda que de longe, a uma grande demonstração de amor. Desde que receberam a notícia da doença do dr. Fernando, esposa, filhos e nora se desdobraram para fazê-lo sentir-se bem e feliz. Para que as limitações da doença não o fizessem sentir diminuído ou incapaz. Formaram em torno dele uma verdadeira "rede" de afeto e gratidão. Não mediram esforços para realizar todas as suas vontades. O proporcionaram momentos felizes, como passeios no parque, almoços em restaurantes que ele escolhia, encontros com os amigos de quem ele sentia falta. No carnaval, ele disse que queria ir ao bloco "Pacotão" e, ignorando todas as dificuldades, lá foi a família com o dr. Fernando para o meio da folia.
Assistir a tanta dedicação, me trouxe sentimentos muito bons e um grande aprendizado. Vocês nem imaginam, mas além de cuidar do pai/marido/sogro, estavam dando um belo exemplo para todos nós, que temos o enorme prazer de conviver com vocês. Por tudo isso, muito obrigada.





Um comentário:

Mario Guilhon disse...

Obrigado Renatinha, que bom ler seu texto nesse final de dia duro..vou dormir feliz..beijos em todos..em todos não..pro Júlio um abraço..rsrsrsrs