quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O maior da América Latina!

Não sei se é verdade, mas ouvi dizer que, certa vez, alguém perguntou ao senador Cristóvão Buarque se era verdade que ele, que construiu sua vida política no Distrito Federal, era mesmo pernambucano. O senador teria olhado para o alguém em questão com uma cara bastante recriminatória. Depois, teria cochichado “não fala isso alto, você não sabe que eu não gosto de humilhar as outras pessoas?”.
Pois é, queridos conterrâneos, esse é apenas um dos contos sobre o nosso bairrismo, tão famoso na capital federal. Eu, que não fujo à regra, acho que Pernambuco é um lugar maravilhoso (do qual, infelizmente, não souberam cuidar, mas isso já é assunto para uma outra crônica). No entanto, sempre me perguntei de onde vem essa nossa “megalomania”. Temos o maior shopping, o maior carnaval, a maior avenida em linha reta, o maior teatro ao ar livre... Se você é pernambucano e em Brasília, comenta: “outro dia, eu fui ao Shopping Recife...”, algum engraçadinho logo completa: “o maior da América Latina!”
Que bom que temos tudo isso, mas porque essa necessidade de ficar repetindo infinitas vezes? Eu mesma sempre repeti... Será que nos ensinaram isso? Claro! Nossos professores também eram pernambucanos...
Às vezes, eu penso se não se trata de uma necessidade de auto-afirmação nossa. É como se estivéssemos justificando, amenizando a imagem que fazem de nós “nordestinos sofridos”. Seria como se disséssemos: “olha, apesar de sermos nordestinos, é lá em Pernambuco que está o maior shopping, viu?! Está vendo como não somos pobre-coitadinhos?”.
Será que não está na hora de pararmos de nos justificar? De tentarmos mostrar o quanto Pernambuco não é aquele sertão clichê que se aprende nas escolas do Sul-Sudeste-Centro-Oeste do Brasil?
Claro que, como pernambucana que sou (até a alma!), sinto orgulho da minha terra. Mas porque lá existem praias maravilhosas, uma cultura riquíssima, artistas talentosos. E não, em hipótese alguma, porque o nosso shopping (logo aquele que eu não vou nunca) tem alguns metros quadrados a mais do que os de São Paulo. Não é nisso que está o nosso valor!

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu, por exemplo, tenho a melhor jornalista do mundo. E não é por nada não, mas ela é PERNAMBUCANA!!!!!

Anônimo disse...

Cara Renata, não concordo com quase nada do que você diz nessa crônica, apenas quando você se refere ao pernambucano como “bairrista”. Isso é verdade sim, e é esse sentimento, de pernambucano, que não me deixou ler seu texto e ficar calado, ainda mais sabendo que você é também dessa terra abençoada por Deus. Nossa gente não tenta se justificar de nada, só morre de orgulho de ser daqui, um Estado cheio, repleto de tudo, um caldeirão cultural, com um povo caloroso e sábio!! Quem nasceu e se criou aqui não se acha “coitadinho”, ao contrário, se adjetiva como um lutador, um bravo. Quando um Pernambucano se aventura por outras bandas, nesse Brasil afora, chora sim, mas não por se sentir humilhado, chora de saudades do céu estrelado no nosso Sertão, das festas do nosso Agreste e do mar do nosso Litoral.
Nossa “megalomania” não é fruto de um sentimento de inferioridade. De jeito nenhum! E se, em algum momento da vida de um pernambucano, ele é discriminado e desdenhado devido as suas origens, surge nessa criatura um sentimento de revolta sim, mas essa indignação vem da constatação da ignorância de um irmão brasileiro que não sabe o que o Nordeste representa para este País, que não conhece o valor dessa terra, que não sabe que o Brasil começou a ser construído aqui e que nos quatro cantos dessa nação tem um dedinho do nordestino (sim, porque nós pernambucanos não somos os únicos bairristas da Região).
Mas essa é com certeza uma triste realidade, a falta de conhecimento do brasileiro sobre o Nordeste, e, especificamente, sobre Pernambuco. A maioria sabe das praias (lê-se Porto de Galinhas, que na minha opinião não é o que nós temos de mais atrativo, nem aqui, nem na China), ou já ouviu falar do Frevo (ritmo filho legítimo de Pernambuco, e que não venha me desmentir o excelentíssimo Ministro da Cultura), ou de Olinda e Recife (onde hoje voltamos a ter um carnaval rico, democrático e multicultural). Mas o que dizer da poesia dos sertanejos do Pajeú, (onde se tem um poeta, ou cantador em cada esquina); das belezas naturais do São Francisco, que nos abençoou com suas águas; da Feira de Caruaru (Patrimônio Imaterial do Brasil), onde a gente encontra um artesanato de primeira, feito com suor e sangue do nosso povo (só de ver como, com tão pouco, se faz tanta beleza a gente enche os olhos d’água); do clima delicioso de Gravatá, na semana Santa; isso sem falar da renda e do bordado de Passira, uma riqueza que de dar gosto! É tanta coisa que tem aqui, que é impossível citar tudo.
Tem ainda a produção intelectual mais recente, que também enche nosso peito de satisfação. Gente que faz muito sucesso e não é só nessa terra não, no País e no mundo os artistas filhos de Pernambuco estão sendo aplaudidos. O que não é de hoje, já que Luiz Gonzaga, nosso “Rei do Baião”, nascido em Exu, é conhecido e pesquisado mundialmente. Mas não dele que estou falando, falo da nossa querida Nação Zumbi (do saudoso Chico Science), de Cordel do Fogo Encantado, de Lenine, de Silvério Pessoa, do Eddie, de Erasto e Naná Vasconcelos, entre tantos outros. Minha Nossa Senhora da Conceição, como é possível não encher a boca para falar de um lugar como esse! Terra de Capiba, Edgar Moraes, Maestro Spok, Getúlio Cavalcanti. Morada de Mestre Ambrósio, Mestre Salustiano, do Maracatu do Baque Solto e do Baque Virado, da Ciranda, do Caboclinho, do Xaxado, dos blocos de Pau e Corda (ah, o Blodo da Saudade!).
Ave Maria! Realmente eu não sei onde você ouviu tanto pernambucano falando do maior Shopping da América Latina, nunca vi ninguém falando isso, só em propaganda do Governo do Estado para atrair turista (erroneamente, vale salientar). Nós não somos e nem nunca nos sentimos inferiores a ninguém, logo não nos justificamos de nada. Somos o que somos, como você mesma disse: BAIRRISTAS, e com muito ORGULHO!!!

Grato pela atenção
Julião da Silva, conhecido como o Pernambuco

Renata Maia disse...

Caro Julião,
Um prazer receber seu comentário. Fique à vontade para fazer isso sempre que quiser.
Bom saber que com apenas dois dias de blog, eu já tenho um leitor que nem conheço!
Volte sempre.
Renata

Anônimo disse...

Mas a maior árvore de natal do mundo você sabe onde fica. rsrs